Último Flamengo x Botafogo em Brasília teve polêmica envolvendo Jorge Jesus

Gabigol em ação pelo Flamengo durante o jogo contra o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro de 2022 (Foto: Reprodução/Flamengo)

Menos de um ano depois, Flamengo e Botafogo voltam a se enfrentar em Brasília, e o cenário é semelhante ao do último clássico entre os times na capital. Nos bancos, os treinadores novamente são portugueses e a pressão mais uma vez está forte no lado rubro-negro.

A diferença é que em 2022 estava muito concentrada em Paulo Sousa, que não conseguia dar padrão ao time e tinha problemas de relacionamento com o elenco. Hoje a conta está mais dividida entre diretoria, jogadores e Vítor Pereira, recém-contratado.

Um outro agente de origem lusitana e de história riquíssima dentro do Flamengo ajudou a acalorar mais a fogueira rubro-negra para Paulo Sousa: Jorge Jesus. Em reportagem publicada por Renato Maurício Prado na manhã seguinte ao empate por 2 a 2 com o Talleres, no qual o time jogou mal, JJ afirmou que queria voltar ao Ninho e, mesmo com o compatriota empregado, deu prazo de 15 dias para a diretoria definir se queria ou não seu retorno.

Ainda na conversa com Renato Maurício Prado, JJ fez críticas às opções de Paulo Sousa, especialmente às adaptações que o compatriota tentou fazer. Um exemplo é o fato de ter utilizado Everton Ribeiro e Marinho pela esquerda. Detalhe: o papo foi publicado a três dias do clássico com o Botafogo, em 5 de maio de 2022.

Declarações pegam mal e causam revolta

As declarações de JJ pegaram mal no Flamengo, principalmente porque o treinador disse que Marcos Braz e Bruno Spindel não teriam feito proposta a ele antes de escolher Paulo Sousa. Paulo e seu staff, aliás, ficaram revoltados. Hugo Cajuda, empresário do treinador, publicou um extenso texto questionando o caráter de Jorge Jesus.

— Sem surpresa assistimos a mais um momento deplorável, de alguém que só estando perturbado e desesperado pode revelar tamanha falta de ética, falta de respeito e falta de profissionalismo. Apesar do seu largo histórico, a referida pessoa consegue subir muitos patamares em mais um episódio vergonhoso – disparou Cajuda.

O comando do futebol rubro-negro e Rodolfo Landim não aceitou a história de que não fizeram convite para Jesus voltar durante a ida de Braz e Spindel a Portugal em dezembro de 2021. Embora o Flamengo tenha conversado com cinco treinadores portugueses, JJ era a prioridade.

O jogo: Arão na zaga, marcação desajustada e ineficácia

Willian Arão em ação pelo Flamengo no Campeonato Brasileiro 2021 (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

A exemplo do que acontece nesse início de 2023, o Flamengo sofria por falta de identidade. A diferença fundamental é que Paulo Sousa já estava em seu quinto mês de trabalho e chegava à 24ª partida à frente do time. VP soma 10 jogos até o presente momento.

Paulo já tinha desgaste com o elenco por opções táticas e exposição de atletas em entrevistas coletivas. Não conseguia tampouco cumprir a promessa feita ainda em Portugal de reunir Gabigol e Pedro no ataque rubro-negro, coisa que Dorival Júnior provaria ser possível ao substituí-lo um mês depois. Àquela altura já havia pressão pela demissão de PS dentro do Conselho de Futebol e ganhava eco em outras área do clube, sobretudo na Gávea.

Com três zagueiros no banco (Pablo, Rodrigo Caio e Léo Pereira), Paulo Sousa escalou Willian Arão na zaga para enfrentar o Botafogo do patrício Luís Castro – tal opção que já aparecera em jogos anteriores, aliás, foi criticada por Jorge Jesus na entrevista citada. No setor ofensivo, até saíram boas combinações entre Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique, mas um repetido roteiro de ineficácia fez o Flamengo não sair do zero.

Pior: o gol da vitória alvinegra, que interrompeu jejum de quatro anos do adversário no clássico, saiu após uma série de erros do Flamengo. Willian Arão calculou mal corte enquanto corria de costas para perseguir Erison, David Luiz não conseguiu fechar o espaço, e Hugo falhou no chute de fora da área. O goleiro já havia errado contra Fluminense e Atlético-MG no início da temporada.

Hugo, aliás, era um dos protagonistas de outra decisão questionável de Paulo Sousa: o rodízio de goleiros. O jovem jogava no Brasileiro, enquanto Santos atuava na Copa do Brasil e da Libertadores.

Resposta sutil a JJ e apenas mais oito jogos: o fim da linha para PS

Paulo Sousa em treino do Flamengo no Ninho do Urubu (Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

O clima no pós-jogo de Flamengo 0x1 Botafogo foi de velório no lado rubro-negro. Semblantes fechados davam o tom do ambiente de um time que era 15º colocado com apenas cinco pontos em 15 disputados – mesma pontuação do Goiás, que abria a zona de rebaixamento.

Imaginava-se um contragolpe de Paulo Sousa após todo o clima criado com as declarações de Jorge Jesus, mas o treinador foi contido.

— Em relação ao Jorge, é um treinador que eu respeito. Respeito a história no Flamengo, respeito a importância dessa história e respeito aquilo que o Jorge foi no Flamengo em 2019. Mas também temos que respeitar o Paulo Carpegiani, que ganhou o título mais importante da história do clube, que é o Mundial de Clubes. Eu só peço a Deus que abençoe a ele e a sua família. E que ele, muito sinceramente, tenha saúde, paz, sobretudo consigo mesmo. E sucesso.

Àquela altura, a situação de Paulo Sousa era insustentável, mas curiosamente a manifestação de Jorge Jesus acabou o segurando por mais oito jogos. O Flamengo não iria acertar o retorno de JJ tendo um compatriota empregado. Mesmo com toda a idolatria e o sucesso conquistado de 2019 a 2020, Rodolfo Landim, Marcos Braz e Bruno Spindel a rechaçaram com convicção.

Insistiram em Paulo Sousa por mais um mês, mas não deu certo. O Flamengo até conseguiu uma série de cinco vitórias em casa, a maioria conquistada com atuações muito pobres. Nesse ínterim, ainda houve crise entre o treinador e Diego Alves potencializada por uma entrevista coletiva concedida após vitória por 3 a 0 sobre a Universidad Católica.

Paulo acabou demitido em 9 de junho, exatamente um mês após o revés diante do Botafogo em Brasília. Derrotas para Fortaleza, no Maracanã, e Bragantino, em Bragança Paulista, marcaram a semana derradeira. Os dias que precederam o fim da relação, em Atibaia, interior de São Paulo, foram melancólicos.

Diferenças importantes

Vítor Pereira comanda o Flamengo em treinamento (Foto: Marcelo Cortes/Flamengo)

Se semelhanças não faltam devido à nacionalidade dos treinadores, o palco do jogo e de mais um momento conturbado no Flamengo, é preciso pontuar diferenças. Vítor Pereira tem o respaldo da diretoria, é visto como treinador para toda a temporada e soma pouquíssimo tempo de trabalho. A pressão se dá pela derrota na Supercopa do Brasil, a vexatória eliminação na semifinal do Mundial de Clubes e a instabilidade defensiva, mas não se concentra unicamente em VP.

Se naquele duelo em maio do ano passado, as duas equipes jogaram com força máxima, o Flamengo praticamente já definiu que jogará com um misto de reservas e jogadores do time sub-20. O treino desta sexta-feira confirmará tal opção. A prioridade de momento é conquistar a Recopa Sul-Americana, na próxima terça-feira, contra o Independiente del Valle, no Maracanã.

Líder da Taça Guanabara com 20 pontos, o Flamengo enfrenta o Botafogo em Brasília neste sábado, às 18h, no Mané Garrincha. Dentre as inúmeras coincidências, a maior delas em relação a 2022 também se expõe no português claro: vencer, com reservas ou não e mesmo diante de um grande clube, é obrigação.

Retirado de: Globo Esporte