Brasil

CBF estuda possível retaliação à emissora

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) encaminhou na sexta-feira (11) um ofício aos 20 clubes que disputam a Série B do Campeonato Brasileiro em 2025, solicitando o envio dos contratos firmados com emissoras de televisão para a transmissão da competição. O pedido ocorreu poucos dias após a repercussão de uma reportagem da revista Piauí, que trouxe denúncias contra a atual gestão do presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, e gerou desconforto no ambiente esportivo.

Embora a CBF tenha alegado que a solicitação segue o artigo 66 do Regulamento Geral de Competições, dirigentes de alguns clubes demonstraram surpresa com o momento e a forma como a medida foi tomada. Os clubes devem compartilhar os contratos com a entidade antes do início dos campeonatos, segundo consta no regulamento da competição. No entanto, a prática não vinha sendo adotada anteriormente, mesmo nas edições anteriores da própria Série B ou em outras divisões.

Segundo o documento assinado por André Mattos, diretor jurídico da CBF, o pedido busca garantir que a entidade possa atuar como “interveniente anuente” nos acordos, assegurando sigilo e confidencialidade das informações. A justificativa oficial indica que o objetivo seria apenas tomar ciência dos detentores dos direitos de transmissão para fins organizacionais, como definição de horários e locais de partidas.

Ainda assim, o contexto da solicitação levantou suspeitas entre os clubes, principalmente por ter ocorrido logo após a exibição do programa Linha de Passe, da ESPN, que abordou as denúncias publicadas pela Piauí. A matéria apontava, entre outros pontos, um aumento superior a 200% nos salários de presidentes de federações e gastos de R$ 3 milhões com acompanhantes na Copa do Mundo do Catar, sem vínculos claros com a CBF.

Ligação com a repercussão midiática

A proximidade temporal entre o envio do ofício e a polêmica na ESPN levou muitos a interpretarem o gesto como uma possível retaliação. O programa da emissora, exibido na segunda-feira (07), foi inteiramente dedicado à reportagem investigativa. Como consequência, seis jornalistas foram afastados temporariamente pela direção da ESPN, incluindo nomes como Gian Oddi, Paulo Calçade e Victor Birner.

A CBF negou qualquer interferência no conteúdo editorial da emissora. Em nota, declarou que “respeita a liberdade de imprensa” e classificou como “mentirosa e leviana” qualquer narrativa que associe o pedido à tentativa de cerceamento da cobertura jornalística. A entidade também afirmou manter um “excelente relacionamento com a ESPN”, citando parcerias em outras competições, como a Copa do Nordeste.

Estrutura dos contratos da Série B

A comercialização dos direitos de transmissão da Série B é realizada pelos próprios clubes, organizados por meio da Liga Forte União (LFU) e da Libra. O modelo segue uma lógica descentralizada, com contratos celebrados diretamente com as empresas de mídia, sem intermediação da CBF.

A ESPN é a principal detentora dos direitos da Série B até 2027, com exclusividade na TV fechada e no streaming via Disney+, em um acordo de R$ 46,5 milhões anuais. Paralelamente, a RedeTV e o canal Desimpedidos, no YouTube, adquiriram cotas de transmissão gratuita por R$ 20 milhões cada. A rede social Kwai também fechou um contrato no valor de R$ 10 milhões para exibir uma partida por rodada, começando em 22 de abril, com o duelo entre Atlético-GO e Cuiabá, às 19h30.

Repercussão e receio entre os clubes

Ainda que a CBF sustente que o ofício apenas visa garantir o bom andamento da competição e conhecimento sobre os parceiros comerciais envolvidos, representantes de clubes demonstraram preocupação quanto à confidencialidade de cláusulas contratuais e à possibilidade de represálias. A hipótese de que empresas envolvidas na veiculação de denúncias possam ser prejudicadas em futuras negociações também foi levantada, embora sem confirmação oficial.

Além disso, o fato de a medida ter sido tomada após o início da Série B reforçou o sentimento de desconfiança. Para muitos dirigentes, o ofício não apenas fugiu à prática usual como também reforçou a tensão entre os interesses comerciais das ligas e o papel centralizador que a CBF historicamente desempenha no futebol brasileiro.

Ana Teixeira

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