Abel Ferreira em Palmeiras x Athletico — Foto: Marcos Ribolli
O trabalho de Abel Ferreira à frente do Palmeiras é constantemente celebrado por seus resultados expressivos, mas, conforme apontado pela colunista Milly Lacombe, há aspectos de sua atuação que raramente são discutidos com a devida atenção.
Em sua coluna mais recente, a jornalista expõe um lado menos comentado da genialidade do treinador português: sua capacidade singular de formação humana, gestão de grupo e domínio psicológico sobre o elenco.
A comentarista recorda, por exemplo, a virada histórica contra o Botafogo, em 2023, no Nilton Santos, como símbolo de um perfil técnico raro. Após um primeiro tempo desastroso, com o Palmeiras perdendo por 3 a 0 e sendo amplamente dominado, Abel surpreendeu ao não fazer substituições no intervalo. “Maluco. Inconsequente. Burro”, escreveu Milly, ao descrever o julgamento imediato de parte da crítica e da torcida.
Porém, a reviravolta do placar para 4 a 3, que culminaria semanas depois na conquista do título brasileiro, revelou um treinador com sensibilidade incomum. “Abel sabe o grupo que tem nas mãos”, afirmou a jornalista. “Ele segura jogadores até que tenham assimilado o seu Palmeiras.”
Essa condução firme e paciente também ficou evidente, segundo Milly, no recente episódio envolvendo Vitor Roque. Após um erro gritante contra o Cerro Porteño, o atacante poderia ter sido sacado no intervalo. No entanto, Abel manteve o atleta em campo, mesmo diante da pressão.
A recompensa veio no segundo tempo, com o gol que selou a vitória por 2 a 0. A colunista vê nisso um gesto de confiança: “Deixá-lo era um sinal de respeito. E Roque retribuiu.”
Aliás, um dos principais argumentos trazidos pela colunista é que Abel não treina apenas futebolistas. “No time dele não existem estrelas”, afirma, sublinhando que o técnico português tem como missão formar indivíduos preparados em todas as esferas: física, técnica, tática e sobretudo mental.
Em sua visão, o treinador atua também como moldador de caráter: “Ele não esconde a preocupação em evitar elogios para que o miúdo não ‘se ache'”, relata. Para Milly, essa rigidez aparente tem um propósito: estruturar a “couraça moral” do grupo.
A filosofia de Abel, aliás, é construída sob uma lógica tribal, segundo a colunista. O técnico trabalha a ideia de pertencimento e de resistência, o que cria uma identidade simbólica muito próxima ao sentimento da torcida alviverde. “Esse ‘nós contra eles’ é um clã. Uma sociedade. Um clube”, escreveu.
Ao agir assim, Abel se alinha a um valor histórico da coletividade palmeirense: o orgulho de se entender como uma torcida de colônia, unida pela exclusão e forjada na superação.
A exigência de reciprocidade é outro traço destacado no texto. Milly lembra que Abel oferece confiança, mas cobra em igual medida. A lealdade ao projeto palmeirense, ao estilo de jogo e aos princípios do grupo são inegociáveis.
Essa construção coletiva, segundo ela, é um dos pilares que fazem com que jogadores como Estevão e Endrick floresçam sob sua liderança. “Seriam os craques que são sem terem passado pela sociedade Abel? Tendo a achar que não.”
Mesmo suas atitudes mais ríspidas são colocadas sob outra perspectiva. Para a colunista, o treinador pode até parecer “chato” aos olhos externos, mas essa “chatice” está diretamente vinculada à criação de um ambiente de segurança interna, onde os “de dentro” são protegidos e valorizados. Já os “civis”, como ela mesma classifica quem está de fora da estrutura construída pelo técnico, não têm acesso ao mesmo abrigo.
Embora aclamado por boa parte da mídia esportiva, Milly também problematiza a possibilidade de Abel repetir esse modelo em outro contexto, principalmente na seleção brasileira. “Ele jamais teria [na CBF] um grupo fechado, uma presidente que confie e o deixe trabalhar.”
A constatação, ainda que opinativa, sublinha que sua genialidade está profundamente enraizada na autonomia que possui dentro do Palmeiras — algo difícil de encontrar em outras estruturas de comando no futebol nacional.
Em conclusão, o texto de Milly Lacombe traça um retrato minucioso de um profissional que vai muito além das táticas e dos resultados. O que se revela é um líder com inteligência emocional afiada, capaz de administrar crises, moldar talentos e manter um elenco coeso sob forte exigência competitiva.
Desde 2020, quando foi contratado pelo Flamengo, Pedro se tornou um dos nomes mais importantes…
Pedro enfrenta incerteza sobre sua presença na decisão da Libertadores, marcada para quarta-feira (29 de…
Com passagem marcada por altos e baixos no Flamengo, o zagueiro Pablo está perto de…
A sequência de partidas recentes do Flamengo pelo Brasileirão expôs uma fragilidade defensiva que tirou…
Mesmo após a derrota no clássico contra o Fluminense, o Flamengo se manteve na liderança…
A derrota do Flamengo no clássico contra o Fluminense, por 2 a 1, na noite…