Aprovado em assembleia realizada na quinta-feira (09 de outubro), o plano de recuperação judicial do Vasco tem enfrentado forte contestação por parte de diversos credores, especialmente aqueles vinculados à esfera trabalhista. Representantes desses credores apontaram uma série de irregularidades processuais e formais na condução da reunião, que foi realizada em um hotel na zona oeste do Rio de Janeiro.
O processo judicial, conduzido na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, recebeu ao menos dois pedidos formais de impugnação. Um deles foi assinado por sete credores, incluindo ex-jogadores e advogados com valores a receber do clube. O outro partiu do representante do ex-volante Wendel, cuja dívida é a maior entre os credores trabalhistas, estimada em R$ 19.941.940,74.
As críticas principais envolvem a falta de quórum mínimo conforme estipulado no edital da assembleia, a entrega de uma versão aditiva do plano com menos de 24 horas de antecedência — o que, segundo os credores, inviabilizou uma análise técnica adequada — e a existência de cláusulas que, na visão deles, ferem a legalidade do processo judicial.
Aliás, os advogados solicitaram o registro integral da gravação da Assembleia Geral de Credores (AGC) e pediram à juíza responsável que avalie a exclusão dos votos emitidos por credores que estariam com poderes de representação considerados irregulares.
Um dos momentos mais marcantes da reunião foi protagonizado por Valdir Bigode, ex-atacante e credor do clube. Embora tenha votado favoravelmente ao plano, deixou claro que sua decisão não representava concordância com o conteúdo proposto. “Seu voto refletiu apenas a resignação diante da impossibilidade de solução melhor naquele momento”, declarou seu advogado. Valdir classificou o contrato como “horroroso” e afirmou que o documento estava desconectado da realidade do seu crédito e das diretrizes previstas na legislação da recuperação judicial.
Outro ponto de conflito envolve a criação da subclasse “Beneméritos Parceiros”, que, conforme os reclamantes, foi criada sem transparência e favoreceu determinados credores em detrimento de outros com direitos semelhantes. O advogado de Valdir também argumentou que, apesar de o ex-jogador estar habilitado como credor há mais de duas décadas, não houve qualquer tentativa de negociação individual ou proposta de acordo.
O Banco Bradesco, um dos dez votantes contrários ao plano, manifestou discordância sobre diversas cláusulas. O banco rejeitou, entre outros pontos, a possibilidade de novação das dívidas e a supressão de garantias sem autorização expressa, além de criticar a cláusula que impede a falência do clube em caso de descumprimento do plano, substituindo-a por nova assembleia — medida considerada incompatível com a legislação vigente.
A situação ainda será avaliada pela Justiça, que poderá homologar ou invalidar a decisão da assembleia, levando em conta as alegações de ilegalidade protocoladas pelos credores.