O diretor técnico do Flamengo, José Boto, passou a ser alvo de uma convocação do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) após declarações incisivas sobre a arbitragem do Campeonato Brasileiro. As falas ocorreram no último domingo (05 de outubro), logo após a derrota rubro-negra por 1 a 0 para o Bahia, na Arena Fonte Nova, pela 27ª rodada da competição.
O estopim da controvérsia surgiu quando o dirigente português criticou abertamente decisões tomadas em outros jogos da rodada, em especial no confronto entre São Paulo e Palmeiras, vencido pelos alviverdes por 3 a 2, em partida marcada por lances polêmicos. A atuação do árbitro Ramon Abatti Abel nesse jogo foi citada diretamente por Boto, que viu na sua escala uma espécie de “recompensa” por um suposto erro cometido dias antes, em jogo entre Flamengo e Cruzeiro.
Em entrevista concedida após o duelo com o Bahia, José Boto demonstrou indignação com o que considera um padrão preocupante nas decisões da arbitragem. Segundo ele, o clube tem tentado diálogo constante com a CBF e a Comissão de Arbitragem, mas as situações controversas continuam ocorrendo.
“O árbitro que nos prejudicou na quinta-feira teve como prêmio ir apitar o nosso rival e fez o que fez. Alguém tem que vir falar da CBF, tem que vir falar sobre isto. Nós não podemos fazer mais do que estamos a fazer, que é conversar com eles, é falar com eles, é mostrar os lances que nos prejudicam. E não tem nada a ver com o jogo de hoje, nada a ver com o jogo de hoje. Vemos os nossos principais rivais serem ajudados da forma como são”.
Posteriormente, ao ser questionado sobre a suspeita de favorecimento a outros clubes, o dirigente foi ainda mais direto.
“Basta vocês verem o que se passa. Eu não estou acusando ninguém. Agora, como estrangeiro, isso não me cheira bem. Não me parece que seja só falta de qualidade dos árbitros. Pois apitam de uma maneira quando estão num campo e apitam de outra maneira quando estão em outro. Isso nos prejudica”.
A declaração repercutiu negativamente na esfera jurídica esportiva. A Procuradoria do STJD decidiu convocar Boto para prestar esclarecimentos, entendendo que suas falas podem configurar insinuações de favorecimento e colocar em dúvida a lisura da competição. Internamente, o Flamengo demonstrou incômodo pelo fato de a convocação ter sido divulgada à imprensa antes de chegar oficialmente ao dirigente.
Aliás, o cenário institucional entre Flamengo e Palmeiras vive um momento de tensão crescente. Conflitos recentes entre os presidentes dos clubes, Rodolfo Landim (representado por Bap) e Leila Pereira, contribuíram para o ambiente de instabilidade antes do confronto direto entre as equipes, marcado para quinta-feira (19 de outubro), às 18h30 (horário de Brasília), no Maracanã.
O caso lembra episódios anteriores envolvendo outros nomes do futebol brasileiro. Em 2023, John Textor, proprietário da SAF do Botafogo, foi multado em R$ 1 milhão pelo STJD por acusações sem provas de manipulação. Já João Martins, auxiliar de Abel Ferreira no Palmeiras, chegou a ser suspenso por três partidas após fazer críticas similares ao sistema.
Com a convocação oficializada, José Boto terá de apresentar sua versão sobre as declarações. A resposta do STJD será acompanhada de perto não apenas pelo Flamengo, mas também por outros clubes atentos ao debate sobre a arbitragem no país.