Atitude nos bastidores piora situação de Ednaldo Rodrigues na CBF

Uma reformulação do estatuto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), aprovada em novembro de 2024, provocou forte reação entre dirigentes de federações estaduais, que alegam terem sido surpreendidos pelas alterações promovidas pela presidência da entidade.

As mudanças, que só vieram a público recentemente, ampliam substancialmente os poderes do presidente Ednaldo Rodrigues, ao mesmo tempo em que reduzem significativamente o papel da diretoria executiva.

A principal crítica gira em torno da condução do processo. Conforme relatos obtidos, os presidentes de 21 das 27 federações estaduais participaram de uma reunião convocada para deliberar sobre a reforma, mas não receberam cópia do novo estatuto. Apesar de o documento ter sido aprovado por unanimidade, o conteúdo integral não foi disponibilizado aos signatários.

O novo texto, registrado em cartório no Rio de Janeiro, permanece até hoje fora do site oficial da confederação. “Os dirigentes estão loucos”, revelou uma fonte ouvida pelas reportagens. “Fomos enganados”, disseram representantes estaduais, indignados com a postura da cúpula da CBF.

Segundo essas fontes, Ednaldo teria apresentado apenas tópicos superficiais na assembleia de novembro, justificando a medida como uma “mera adequação às normas da Fifa”. No entanto, o conteúdo aprovado foi muito além disso.

Dentre as mudanças mais impactantes, destaca-se a permissão para que o presidente da entidade dispute um terceiro mandato consecutivo, algo anteriormente vedado. Além disso, a possibilidade de a diretoria executar afastamentos de dirigentes ou intervir em federações foi revogada. A partir de agora, tais decisões são de competência exclusiva do presidente.

Outras modificações também despertaram polêmica. A partir da nova versão estatutária, passa a ser permitido o fechamento de contratos entre a CBF e empresas pertencentes a dirigentes ou a seus familiares, medida que anteriormente era expressamente proibida. Assim também, as atribuições da diretoria foram esvaziadas, ficando praticamente todas centralizadas nas mãos do atual presidente.

O caso veio à tona após reportagens dos veículos O Globo, Jornal de Brasília e publicações nas redes sociais detalharem a manobra. A revelação gerou questionamentos sobre a responsabilidade dos dirigentes que assinaram o documento sem acesso prévio ao seu conteúdo. Aliás, muitos passaram a refletir se agiram por ingenuidade, negligência ou cumplicidade.

Ednaldo, por sua vez, ainda não se pronunciou publicamente sobre as denúncias. Em encontro recente, limitou-se a apresentar um panorama político e jurídico da sua situação, especialmente diante da possibilidade de afastamento pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Conforme interlocutores próximos, o dirigente confia em uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF), caso a corte fluminense confirme o afastamento.

Em síntese, as mudanças no estatuto da CBF, realizadas sem transparência, instauraram uma crise institucional e abriram uma nova fase de instabilidade na entidade máxima do futebol brasileiro. A insatisfação dos cartolas estaduais é evidente e promete desdobramentos nos bastidores da gestão esportiva nacional.