Ele quase não foi contratado pelo Botafogo

A trajetória de David Ricardo até o Botafogo foi marcada por tentativas, frustrações e uma reviravolta inesperada. O clube carioca já havia demonstrado interesse pelo zagueiro anteriormente, e a contratação esteve perto de se concretizar ainda em 2024.

Contudo, um transfer ban impediu o Ceará de registrar novos jogadores naquele período, o que inviabilizou a negociação. Assim, o defensor permaneceu no clube nordestino, onde continuou atuando e chegou a acompanhar, de casa, a final da Copa Libertadores, experiência que, segundo ele, mexeu com suas emoções.

Logo no início de 2025, surgiu uma nova possibilidade, dessa vez fora do país. “Já estava praticamente tudo certo, com salário, eu estava vendo casa. Meu empresário me ligou dizendo para eu começar a arrumar as minhas coisas porque ele estava comprando a passagem”, revelou o jogador, destacando que tudo indicava uma mudança iminente para os Estados Unidos.

O chamado inesperado e a decisão imediata

Apesar de o acordo internacional estar encaminhado, David revelou que não se sentia completamente seguro com a ideia. Ele buscou uma resposta em oração:

“Pedi em oração que, se fosse da vontade de Deus que eu fosse para os Estados Unidos, que eu fosse. Se não, que me trouxesse algo que eu fosse gostar. E que, se fosse possível, do Botafogo porque eu sabia que eles tinham interesse em mim”.

No dia seguinte, o telefone tocou com um número desconhecido, mas ele não atendeu. “Até pedi desculpa pra ele porque eu não atendi. Eu não sabia quem era, e o número era desconhecido”, contou o zagueiro. A ligação era de Alessandro Brito, diretor do Botafogo, e, assim que soube, David não hesitou:

“Ele perguntou se eu tinha interesse, e na hora eu nem pensei muito. Não perguntei quanto ganharia, só falei para o meu empresário que poderia fechar porque eu queria muito vir para cá”.

Superação pessoal e raízes no futebol nordestino

O defensor foi revelado pelas categorias de base do Fluminense-PI, mas considera o Ceará como peça fundamental em sua formação. “Me considero um jogador da base do Ceará, mesmo tendo jogado no profissional do Fluminense-PI. Morei no CT, fui muito acolhido. Tenho muito orgulho de ter feito parte do clube”, declarou.

No Alvinegro cearense, conquistou títulos e o acesso à Série A, além de ter vivido um de seus momentos mais difíceis: a perda da mãe, Maria Luiza, em 2022, enquanto viajava para uma partida em Goiânia.

O episódio marcou profundamente sua vida. Mesmo abalado, encontrou forças nas palavras de despedida da mãe, que acreditava que ele seria comprado pelo Ceará.

“Pensei em não voltar mais, mas aquela palavrinha que ela disse ao se despedir… Então coloquei para mim mesmo que voltaria e seria comprado”, contou. A profecia da mãe se concretizou, mesmo com o clube sendo rebaixado à Série B.

Espaço conquistado no Botafogo e novos desafios

Desde que chegou ao clube de General Severiano, David tem sido uma das opções utilizadas na defesa, especialmente durante a ausência de Barboza, lesionado. “Já vim sabendo que a melhor zaga da América do Sul estava aqui no Botafogo e que eu não chegaria jogando”, reconheceu.

Ainda assim, demonstrou confiança e disposição em buscar espaço. “Jamais vou torcer para um companheiro meu se lesionar. Prefiro que a gente brigue pela posição, e que o trabalho seja do treinador”.

Com 10 partidas disputadas, incluindo atuações na Libertadores, ele projeta mais experiências importantes, como a participação na Copa do Mundo de Clubes. Enquanto isso, se prepara para um reencontro simbólico: enfrentará o Ceará, clube onde construiu parte significativa de sua trajetória.

Em meio à dor, fé e conquistas, David resume sua motivação: “Por ela, eu continuo”, referindo-se à mãe. A força que o impulsiona segue presente, agora amplificada pela presença da esposa, Lays, e do filho Matteo.