A parceria entre o Corinthians e a empresa de consultoria Alvarez & Marsal, considerada um dos principais pilares do planejamento de reestruturação financeira do clube, chegou ao fim de forma abrupta. Iniciado em julho do ano passado, o acordo foi encerrado oficialmente na quarta-feira (30), após a própria consultoria solicitar a rescisão contratual.
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A ruptura foi motivada por uma combinação de fatores que se agravaram ao longo dos meses. A presença de Fred Luz, sócio da Alvarez & Marsal, havia sido anunciada como um reforço importante para o processo de reorganização estrutural do clube. Ele chegou a assumir o cargo de CEO, porém, ainda em novembro, deixou a função executiva para atuar como consultor.
De acordo com relatos apurados, as discordâncias começaram a se tornar evidentes ainda em 2024, quando ficou claro que clube e consultoria não compartilhavam a mesma visão sobre como enfrentar a grave crise financeira.
A Alvarez & Marsal defendia uma abordagem mais conservadora nos investimentos, ao passo que a diretoria do Corinthians optou por manter uma postura mais ousada no mercado da bola. Um dos exemplos mais emblemáticos foi a contratação de Memphis Depay, cujo contrato pode chegar a R$ 120 milhões, sendo R$ 57 milhões custeados pela principal patrocinadora, a Esportes da Sorte.
Enquanto a consultoria pregava contenção de despesas, o clube ampliava o passivo. O balanço mais recente apontou uma dívida de R$ 2,5 bilhões — um salto de R$ 829 milhões apenas no primeiro ano da gestão Augusto Melo. “Como se ambos quisessem curar a doença, mas o clube pouco disposto a tomar os medicamentos”, descreveu uma fonte próxima à consultoria.
Mudanças internas
Fred Luz, que inicialmente foi anunciado com destaque, passou a ser pouco consultado nas decisões do dia a dia. O representante da Alvarez & Marsal no clube passou a ser André Lavieri, alocado no departamento financeiro, mas com autonomia limitada, o que enfraqueceu a atuação da consultoria.
A saída de Pedro Silveira da diretoria financeira, por motivos de saúde, agravou ainda mais o cenário. Ele era o principal elo entre o clube e a empresa, e sua ausência gerou incertezas sobre a continuidade do trabalho.
Além disso, a situação política do Corinthians também contribuiu para o fim da parceria. A nomeação de dirigentes como Edgard Soares para o marketing e Carlos Roberto Elias no futebol feminino geraram desconfiança dentro e fora do Parque São Jorge. Temia-se, inclusive, que a substituição de Pedro Silveira fosse feita com critérios políticos, o que não agradava a Alvarez & Marsal.
Segundo nota oficial divulgada pelo clube, a decisão foi tomada em “comum acordo”, no contexto de uma “reestruturação interna com foco na otimização de custos”. O comunicado ainda assegura que a equipe financeira atual manterá a continuidade das práticas de governança implantadas durante o período de parceria.
Conforme membros da própria diretoria, Fred Luz já demonstrava insatisfação com a dificuldade de aplicar as diretrizes propostas. Por outro lado, internamente, sua atuação também era vista com ressalvas, uma vez que havia expectativa de maior entrega em demandas imediatas. A sua permanência, aliás, era questionada por conselheiros que alegavam potencial conflito de interesses, considerando que a Alvarez & Marsal atuava em paralelo com a consultoria Ernst & Young, contratada pela atual gestão desde o início.
Ao fim, a recomendação da Comissão de Justiça do clube pela rescisão do contrato apenas formalizou um distanciamento que, na prática, já estava consolidado. A iniciativa de encerrar o vínculo no último dia de abril visou evitar custos adicionais no início de um novo mês, gesto que simboliza o esgotamento definitivo das tentativas de conciliação.