Ednaldo Rodrigues pode impedir chegada de Ancelotti na Seleção Brasileira; entenda

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, em entrevista coletiva da seleção brasileira feminina (Foto: Thais Magalhães/CBF)

A aproximação entre Carlo Ancelotti e a CBF para o comando técnico da Seleção Brasileira, inicialmente marcada por grande expectativa, tornou-se, nos bastidores, uma operação jurídica e política de alta complexidade. A recente movimentação do estafe do técnico italiano, que acionou um dos mais conceituados escritórios de advocacia do Rio de Janeiro, ilustra a preocupação com os desdobramentos jurídicos envolvendo Ednaldo Rodrigues, atual presidente da entidade.

Avaliação jurídica: um movimento estratégico

Conforme revelou a colunista Alicia Klein, do UOL Esporte, a equipe de Ancelotti contratou advogados especializados em direito civil e empresarial para avaliar o impacto que a instabilidade política da CBF pode gerar sobre o contrato com o treinador.

O principal foco é entender se uma possível destituição de Ednaldo comprometeria acordos firmados com sua gestão — especialmente o vínculo pretendido com Ancelotti, que já teve cláusulas e valores discutidos.

O temor reside, primordialmente, na possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) anular o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado entre o Ministério Público e a CBF. Se isso ocorrer, a eleição que reconduziu Ednaldo à presidência em 2022 pode ser invalidada, o que implicaria na saída de toda a chapa eleita. Nessa hipótese, um interventor judicial voltaria a comandar a confederação, como já ocorreu anteriormente.

Pressão internacional e cuidados contratuais

Apesar de a assinatura do contrato com o treinador ser considerada iminente, a repercussão internacional do caso e a incerteza jurídica levaram o estafe de Ancelotti a agir com cautela. Os advogados foram incumbidos de apurar a legalidade e a segurança institucional da gestão da CBF, caso haja uma troca de comando. Afinal, qualquer mudança pode afetar diretamente os compromissos assumidos com a nova comissão técnica.

Aliás, essa não é a primeira vez que Ednaldo vê em Ancelotti um trunfo político. Desde 2023, o dirigente articula a contratação do italiano como forma de consolidar sua autoridade. Na época, uma decisão judicial o afastou temporariamente da presidência, o que fez Ancelotti renovar com o Real Madrid. Quando o dirigente foi reintegrado por liminar, a CBF recorreu a Dorival Júnior.

O impacto político da chegada de Ancelotti

Enquanto a negociação segue em compasso de espera, a figura de Ancelotti ganhou ainda mais importância política. Segundo reportagem do Lance!, a chegada do treinador é vista internamente como essencial para conter a pressão que Ednaldo sofre tanto no STF quanto na esfera legislativa.

A deputada federal Daniela Carneiro, do União Brasil-RJ, solicitou formalmente o afastamento do presidente, alegando irregularidades na homologação da eleição — entre elas, a suposta falsificação da assinatura do ex-presidente Coronel Nunes, questão que também foi levada ao Ministério Público.

Nesse contexto, Ancelotti passou a representar mais do que um reforço técnico. Sua confirmação é tratada como o principal ativo de Ednaldo para manter-se à frente da entidade, conforme o julgamento do STF, previsto para quarta-feira (28), se aproxima. A CBF, por sua vez, emitiu nota reafirmando “o compromisso com a transparência, a legalidade e a boa-fé”.

A urgência e os desafios com o Real Madrid

A Seleção Brasileira segue sem técnico há mais de 40 dias. Rodrigo Caetano, coordenador da seleção, indicou que o anúncio do novo comandante pode ocorrer na próxima semana. “Estamos constantemente em reuniões internas […] com a intenção de, num prazo máximo, ainda na próxima semana, ter essa definição”, afirmou o dirigente à emissora Sportv.

Contudo, o acordo com Ancelotti enfrenta mais um obstáculo. O técnico italiano tem vínculo com o Real Madrid até 2026 e não pretende rescindir unilateralmente. O clube espanhol, por sua vez, aceitaria a liberação ao fim da atual temporada, desde que o treinador abra mão de valores a receber até o fim do contrato.

A expectativa é que, após o clássico contra o Barcelona no sábado (11), Ancelotti esteja liberado para oficializar o acerto. Isso é crucial para que o novo comandante assuma a equipe antes dos duelos contra Equador e Paraguai, nos dias 5 e 10 de junho, válidos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. A lista de convocados precisa ser enviada à Fifa até sábado (18), o que aumenta a pressão por uma definição.

Ancelotti, o elo entre estabilidade esportiva e política

Enquanto o técnico evita se pronunciar publicamente, os desdobramentos jurídicos e políticos reforçam seu papel como peça-chave para a permanência de Ednaldo no comando da CBF. Eventualmente, o treinador poderá ser anunciado mesmo antes do fim da temporada europeia, mas somente se as garantias jurídicas forem consideradas sólidas.