Jornalista detona CBF após contratação de Ancelotti

Escudo da CBF (Foto: Reprodução)

A chegada de Carlo Ancelotti ao comando da Seleção Brasileira representa, segundo o jornalista Carlos Eduardo Mansur, uma aquisição de peso. Em contrapartida, escancara a ausência de planejamento estruturado por parte da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em sua análise publicada nesta terça-feira (13), Mansur elogia o treinador italiano, mas não poupa críticas ao processo que envolveu sua contratação, revelando o que considera uma condução improvisada da entidade máxima do futebol brasileiro.

De início, Mansur reconhece a competência de Ancelotti. “A seleção brasileira terá um ótimo treinador”, afirma o jornalista, destacando a longa trajetória vitoriosa do italiano, marcada pela capacidade de adaptação e pela convivência harmoniosa com grandes talentos.

Entretanto, esse mérito individual não basta para mascarar as deficiências institucionais. Para o colunista, a espera prolongada por Ancelotti indica que a CBF não possuía um plano técnico claro. O “projeto”, na realidade, reduzia-se ao próprio nome do treinador, como se sua presença fosse garantia de títulos, dada sua coleção de conquistas no futebol europeu.

Segundo Mansur, a CBF se agarrou à figura de Ancelotti com a esperança de que ele trouxesse consigo não apenas um método, mas também os troféus já conquistados, como se houvesse uma transposição automática entre o sucesso nos clubes e o desempenho em seleções. “A crença num nome como solução”, escreve ele, ilustra o reducionismo que norteou a decisão da entidade.

Outro ponto central da crítica de Mansur reside nas diferenças fundamentais entre o trabalho em clubes e o exercício à frente de uma seleção nacional. Ele lembra que técnicos de clubes convivem diariamente com seus atletas, ajustam estratégias com rapidez e constroem relações próximas — realidade distante da esporádica rotina das seleções. “São trabalhos muito diferentes”, sentencia.

Para fundamentar sua análise, o jornalista cita os casos de Hansi Flick e Luis Enrique. Ambos brilharam no futebol europeu, mas foram responsáveis por campanhas frustrantes na Copa do Catar com Alemanha e Espanha, respectivamente.

Já os últimos três treinadores campeões do mundo — Scaloni, Deschamps e Löw — apresentavam trajetórias modestas como treinadores de clubes, demonstrando que o êxito em seleções segue lógica própria.

Mansur ressalta ainda que a CBF, ao optar por esperar Ancelotti até o fim de seu contrato com o Real Madrid, comprometeu o tempo de adaptação necessário ao novo comandante. Agora, o italiano terá menos de um ano e apenas cinco convocações antes da definição da lista final para a próxima Copa do Mundo.

“A CBF se encarregou de tornar tudo mais difícil”, critica o colunista, enfatizando que o ciclo preparatório da seleção foi prejudicado por essa escolha.

Apesar das limitações impostas pelo calendário, Ancelotti carrega um trunfo: sua versatilidade tática. Desde o Milan, onde ficou marcado pelo esquema 4-3-2-1 — apelidado de “árvore de natal” — até o Real Madrid, em que alternou entre o 4-3-3, o 4-3-1-2 e o 4-4-2, o treinador demonstrou adaptabilidade.

Ainda assim, segundo Mansur, a seleção brasileira enfrentará desafios específicos, como a sobreposição de seus principais atacantes pela esquerda do campo — casos de Vinicius Junior, Rodrygo e Raphinha —, o que exigirá do técnico italiano um novo equilíbrio.

Em sua análise final, o jornalista sustenta que a CBF limita o papel de Ancelotti a uma missão simples e imediatista: vencer a Copa. Contudo, essa imposição reduz drasticamente o potencial de contribuição do treinador ao futebol brasileiro. “É uma visão pobre”, avalia Mansur, ressaltando que, mesmo com uma eventual conquista do título, será necessário lembrar “a forma estabanada como a equipe foi gerida”.