Bastidores: Ancelotti teve que ser convencido a antecipar vinda ao Brasil

Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid (Foto: Reuters)

Carlo Ancelotti está oficialmente a caminho do Brasil para iniciar sua trajetória como técnico da Seleção Brasileira. Aliás, a CBF articulou intensamente para convencer o treinador a se apresentar antes do previsto. Inicialmente, sua chegada estava planejada para a janela de transferências do meio do ano, mas o italiano antecipará sua vinda para o fim de maio. Dessa forma, estará à frente da equipe nos compromissos de junho pelas Eliminatórias Sul-Americanas.

A decisão de antecipar sua chegada foi resultado de diversas conversas reservadas, conduzidas com discrição por representantes da CBF. Conforme apurado, dirigentes estiveram no Estádio Santiago Bernabéu no dia 16 de abril, durante o jogo entre Real Madrid e Arsenal pela Liga dos Campeões. No dia seguinte, reuniram-se com Ancelotti em sua residência para selar os últimos detalhes do acordo.

Apesar de já ter expressado publicamente o desejo de cumprir o contrato com o Real Madrid até 2026, o técnico demonstrava, nos bastidores, incômodo com o ambiente no clube. A temporada 2024-25 foi marcada por dificuldades: a eliminação para o Arsenal na Champions, a ausência de conquistas e a saída iminente de jogadores como Kroos, Nacho e Joselu, além do desgaste pela falta de reforços, tornaram o cenário insustentável.

Ademais, a situação ficou ainda mais delicada com as tratativas do clube espanhol com Xabi Alonso para substituí-lo.

Outro fator que pesou na decisão foi o afastamento progressivo de Davide Ancelotti, seu filho e auxiliar técnico, que planeja seguir carreira como treinador principal. Ao mesmo tempo, o treinador italiano enfrenta um processo por evasão fiscal na Espanha, relacionado a sua primeira passagem pelo clube merengue, o que contribuiu para sua disposição em aceitar o novo desafio.

O contrato assinado com a CBF tem validade inicial de um ano, até o fim da Copa do Mundo de 2026, com possibilidade de extensão. A estreia oficial deve ocorrer em junho, contra o Uruguai e os Estados Unidos, em solo norte-americano. A partir de então, Ancelotti inicia a missão de reconstruir o prestígio da Seleção, reorganizar o grupo de atletas e implementar um estilo de trabalho mais disciplinado e estruturado.

Segundo pessoas próximas, Ancelotti sempre considerou treinar uma equipe nacional antes de encerrar sua carreira. A proposta brasileira foi encarada como uma “oportunidade única”, tanto pelo peso da camisa quanto por representar um trabalho de menor intensidade em comparação com o calendário europeu. “É um desafio à altura de um técnico experiente como ele”, confidenciou um interlocutor envolvido nas tratativas.

A escolha por Ancelotti foi tratada como prioritária por Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, que o definia como “o sonho” da entidade. Embora nomes como Jorge Jesus tenham sido cogitados, os esforços foram concentrados na contratação do italiano.

A expectativa é de que sua experiência traga equilíbrio a uma Seleção em processo de renovação, que conta com jovens como Vinícius Júnior, Rodrygo e Endrick — todos jogadores que Ancelotti já conhece bem.

A aposta no treinador europeu é estratégica. A CBF espera que ele não apenas conquiste resultados em curto prazo, mas também contribua para o desenvolvimento de uma nova identidade no futebol nacional, pautada em disciplina tática, valorização individual e organização coletiva. Afinal, o futebol brasileiro busca recuperar sua posição de protagonismo, e Carlo Ancelotti chega com o papel de conduzir esse processo.