A ascensão de Samir Xaud à presidência da CBF, prevista para ser oficializada no próximo domingo (25 de maio), carrega consigo ecos recentes do cenário político do Corinthians. Afinal, o novo nome que comandará a entidade máxima do futebol nacional tem sido comparado por colunistas e bastidores ao dirigente corintiano Augusto Melo, cuja gestão tem sido marcada por promessas frágeis e denúncias incômodas.
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Conforme o jornalista Juca Kfouri destacou em sua coluna no UOL, ambos compartilham um padrão de comportamento: apresentam versões dos fatos que, à medida que são verificadas, se demonstram distantes da realidade. “Samir Xaud é o Augusto Melo da CBF”, escreveu o colunista, citando casos em que os dois se utilizaram de meias verdades — ou de mentiras comprovadas — em momentos decisivos de suas trajetórias públicas.
Histórico e contradições de Samir Xaud
Xaud, atualmente presidente da Federação Roraimense de Futebol, alegou em entrevista à Folha de S.Paulo que uma ação judicial contra ele por desvio de R$ 1,4 milhão já teria sido arquivada. Contudo, segundo seus próprios advogados, o processo ainda está em tramitação, contrariando diretamente a afirmação feita à imprensa.
Em outro episódio, o futuro mandatário da CBF negou ter realizado uma perícia médica envolvida em um acidente de trânsito — mesmo tendo sido suspenso de suas funções por dois anos, conforme noticiado pelo jornal O Globo.
Esses episódios revelam um padrão similar ao de Augusto Melo, que durante a campanha presidencial no Corinthians mencionou apoios de figuras falecidas, numa tentativa clara de criar legitimidade fictícia. Enquanto isso, sua gestão no clube enfrenta riscos de cassação após denúncias que envolvem má conduta administrativa e ausência de transparência em acordos financeiros.
Composição da nova diretoria da CBF
A gestão que Samir Xaud deve liderar contará com nomes conhecidos e outros inéditos. Entre os vice-presidentes está Fernando Sarney, que já atuava como interventor da entidade e foi mantido na nova estrutura. Sarney é um personagem antigo do futebol nacional e carrega uma trajetória com diversos episódios investigativos.
Ele foi indiciado por crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas, além de ter tentado impedir a divulgação de escutas telefônicas da Polícia Federal em 2009.
A chapa inclui ainda Michelle Ramalho, presidente da Federação Paraibana de Futebol, que se tornará a primeira mulher na vice-presidência da CBF; Flavio Zveiter, ex-presidente do STJD e nome ligado à cúpula do Judiciário fluminense; Gustavo Dias Henrique, que representa o Distrito Federal; e os dirigentes Ricardo Gluck Paul (Pará), José Vanildo (Rio Grande do Norte), Ednailson Rozenha (Amazonas) e Rubens Angelotti (Santa Catarina).
Continuidade e alianças no poder
A despeito das controvérsias, a eleição com chapa única evidencia que o controle político dentro da CBF permanece centralizado. Ednaldo Rodrigues, que foi afastado do cargo por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, retirou sua candidatura e declarou que o fazia para “pacificar” o futebol nacional — embora alegasse que ainda havia caminhos legais para retornar ao comando.
Assim sendo, o processo eleitoral se dá sem oposição visível, permitindo que Xaud, mesmo sob suspeitas, chegue ao cargo mais alto da estrutura do futebol brasileiro. A composição da sua chapa, formada por presidentes de federações estaduais e nomes de confiança de gestões anteriores, sugere um projeto de manutenção do modelo atual, com algumas mudanças pontuais.
Um retrato de velhos hábitos
Portanto, a comparação entre Samir Xaud e Augusto Melo transcende os limites de suas respectivas instituições. Ambos refletem uma prática recorrente no futebol brasileiro, em que disputas de poder frequentemente ignoram critérios técnicos ou éticos.
As semelhanças entre os dois dirigentes — desde as versões contraditórias que apresentam em entrevistas até a maneira como lidam com escândalos — expõem uma fragilidade institucional que, infelizmente, ainda parece resistente às mudanças.