Defesa de Bruno Henrique toma atitude que pode salvar atacante do Flamengo

Bruno Henrique em embarque do Flamengo - Foto: Adriano Fontes/Flamengo
Bruno Henrique em embarque do Flamengo - Foto: Adriano Fontes/Flamengo

A defesa do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, protocolou um Habeas Corpus no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), solicitando a anulação do processo em que o jogador foi indiciado. O recurso foi apresentado em segunda instância, sob a alegação de que a jurisdição para julgamento deveria ser da Justiça Federal, e não da esfera estadual.

Além disso, os advogados requereram uma liminar para suspender todos os atos relacionados ao processo até a deliberação final sobre o pedido.

Caráter transnacional e competência da União

Entre os principais argumentos apresentados está o entendimento de que o caso extrapola os limites estaduais, por envolver elementos internacionais e tratar de apostas esportivas, cuja regulação é competência da União. Conforme sustentado, essas atividades são regidas por leis federais de 2018 e 2023, subordinadas ao Ministério da Fazenda.

A investigação foi iniciada por meio de um alerta de uma associação internacional de integridade em apostas, sediada na Bélgica, encaminhado à CONMEBOL e à FIFA — com sedes no Paraguai e na Suíça, respectivamente — e posteriormente repassado à CBF.

O inquérito foi assumido pela Polícia Federal com base em tratados internacionais de combate à corrupção no esporte, sob autorização do Ministério da Justiça.

Denúncia aponta esquema interestadual de manipulação

A acusação contra o atleta se refere à suspeita de que ele teria forçado um cartão amarelo durante uma partida contra o Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023, com o objetivo de beneficiar apostadores. A Polícia Federal identificou movimentações financeiras ligadas ao episódio em cidades de Minas Gerais e plataformas de apostas com sede fora do país, como Malta e Curaçao.

Bruno Henrique, por sua vez, reside e atua no Rio de Janeiro, o que reforça, segundo a defesa, o aspecto interestadual e internacional da situação.

Segundo o Ministério Público, o atacante foi indiciado com base no artigo 200 da Lei Geral do Esporte, que trata de fraudes em competições, e também por estelionato. As penas previstas somam até 11 anos de reclusão, considerando os dois tipos penais.

Acusações envolvem familiares e amigos do jogador

O processo não atinge apenas Bruno Henrique. Foram igualmente indiciados o irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, sua esposa Ludymilla Araújo Lima e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso, todos citados por participação direta em apostas.

Além deles, um segundo grupo de envolvidos, formado por amigos da família, também figura nas investigações: Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Rafaela Cristina Elias Bassan, Henrique Mosquete do Nascimento, Andryl Sales Nascimento dos Reis, Max Evangelista Amorim e Douglas Ribeiro Pina Barcelos.

Mensagens extraídas dos celulares apreendidos apontam conversas comprometedoras. Em uma delas, Wander pergunta quando o atacante tomaria o terceiro cartão amarelo, ao que Bruno responde: “Contra o Santos”.

Alegações de abusos processuais e riscos de prejuízo irreparável

Os advogados do atleta afirmam que houve “constrangimento ilegal”, ao defenderem que a Justiça Estadual não tinha competência para autorizar medidas como buscas e apreensões. Segundo eles, a operação foi conduzida de forma “truculenta e midiática”, o que teria exposto indevidamente o jogador e seus familiares.

A defesa também alega que, caso o processo prossiga na Justiça Estadual, há risco de novas ilegalidades, como uma eventual denúncia mal formulada por parte do Ministério Público, o que poderia provocar danos irreversíveis à imagem e à carreira do atleta.

Inquérito também avança no STJD

Paralelamente ao processo judicial, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) instaurou inquérito e convocou Bruno Henrique para um depoimento reservado, agendado para a próxima segunda-feira. Até o momento, não houve pedido de suspensão preventiva, o que permite ao jogador seguir atuando normalmente pelo Flamengo.

O contrato do atleta com o clube vai até dezembro de 2026. Caso seja suspenso por decisão judicial ou desportiva, o vínculo poderá ser interrompido temporariamente, sendo retomado ao término do cumprimento da pena. A ação dos advogados busca, também, ganhar tempo para melhor preparar a defesa e evitar sanções antecipadas.