Nos bastidores, a disputa por receitas entre Flamengo, Libra e LFU ganhou novos capítulos com entrevista do CEO da LFU e um bloqueio judicial de R$ 77 milhões; em campo, a expulsão de Danilo e a derrota para o Bahia custaram a liderança do Brasileirão; e, paralelamente, veio a público um documento do Flamengo que questiona os critérios de audiência definidos pela Libra no contrato com a Globo.
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Disputa por receitas: LFU critica Flamengo e defende divisão mais equilibrada
Em entrevista ao CNN Esportes S/A no domingo (05), Gabriel Lima, CEO da Liga Forte União, comentou o impasse entre Flamengo e Libra sobre a divisão de receitas. O clube rubro-negro foi à Justiça e obteve decisão que bloqueou R$ 77 milhões da Libra, movimento que expôs as fraturas em torno do acordo de mídia e da governança da liga. A divergência se acentuou após a assinatura de contratos distintos: acordo único da Libra com a Globo e, no caso da LFU, direitos fatiados entre Amazon, Record, YouTube e Globo.
Lima defendeu uma solução negociada, fora das cortes, e criticou a estratégia do Flamengo. Para o executivo, o litígio judicial impacta diretamente o fluxo de caixa de clubes que aguardam repasses e deveria ser substituído por uma deliberação interna. O contexto político também inclui a postura mais assertiva da gestão BAP no Flamengo, que questiona critérios e decisões tomadas sem unanimidade.
“Nós temos acompanhado o tema apesar se não estar diretamente ligado. Minha torcida é para que tenha um entendimento fora da esfera judicial. Acho que é muito prejudicial para os clubes que precisam receber terem seus recursos travados por uma discussão que deveria ser interna. Torço para que isso se resolva da maneira mais rápida possível”.
Na avaliação do dirigente, ligas consolidadas no exterior crescem mais quando adotam modelos de distribuição com maior equilíbrio, reduzindo assimetrias e fortalecendo o produto de forma coletiva. Ele enquadrou a posição do Flamengo como míope, enfatizando argumentos técnicos para sustentar a tese de equilíbrio como vetor de crescimento do campeonato.
“Sendo bem honesto, acredito que a visão do Flamengo nessa história é muito míope. Vou dar dois argumentos muito técnicos e sem entrar no mérito de que está certo ou errado. Primeiro. As ligas mais bem-desenvolvidas dividem melhor os seus recursos. Dividir melhor significa um crescimento melhor”.
Ao abordar a Lei do Mandante e o impacto de audiência, Lima relativizou o peso econômico dos jogos como visitante para cada clube. Segundo ele, a participação desses jogos no total do campeonato e na audiência agregada é limitada, o que deveria orientar as negociações e a métrica de valorização de conteúdo.
“O jogo que o time joga fora não pertence economicamente a ele. 19 jogos de 380 no Campeonato Brasileiro (equivale a) 5%. Esses 5% de jogos nunca, em nenhuma hipótese, vai representar mais do que 10 a 12% do total de audiência”.
Expulsão de Danilo e revés na Bahia tiram a liderança do Flamengo
No domingo (05), o Flamengo perdeu por 1 a 0 para o Bahia, na Arena Fonte Nova, pela 27ª rodada do Brasileirão. O jogo foi marcado pela expulsão de Danilo aos 12 minutos, após atingir o rosto de Tiago, lance que alterou a dinâmica da partida. Willian José marcou no fim do primeiro tempo e definiu o placar.
Com o resultado, o Flamengo perdeu a liderança para o Palmeiras, que tem a mesma pontuação, mas leva vantagem no número de vitórias. A análise pós-jogo recaiu sobre a imprudência do lance que deixou o time com um a menos desde cedo e exigiu um esforço extra do elenco rubro-negro para se manter competitivo ao longo dos 90 minutos.
“Danilo, help me, I help you. Jogador rodado de Copa do Mundo, Seleção Brasileira, de Real Madrid, de Manchester City, de Juventus, você é o grande responsável pela derrota do Flamengo. O que você fez, um jogador, com a sua experiência, com a sua capacidade, da inteligência que você é, você não pode fazer o que você fez”.
“O Flamengo perde o jogo, o Flamengo deixa a liderança no campeonato e o responsável é o Danilo. O Danilo assume o risco. ‘ Ah, mas pegou no raspão’. Não interessa se pegou de raspão. Interessa que ele foi imprudente, foi bem expulso. O grande responsável pela derrota do Flamengo chama-se Danilo”.
Após a partida, Danilo se desculpou publicamente com elenco e torcida, reconhecendo que a expulsão condicionou o jogo e colocou os companheiros em situação de desgaste. O pedido de retratação reforça a leitura de que o episódio foi determinante no resultado e reabre o debate sobre gestão emocional e tomada de decisão em jogos de alta pressão.
“Acho que é importante eu aqui me retratar perante os meus companheiros e a torcida do Flamengo, porque, obviamente, uma expulsão tão cedo no jogo condiciona muito aquilo que é a partida e bota meus companheiros numa situação complicada de muito esforço. Então, a primeira palavra aqui é de um pedido de retratamento com os meus companheiros e com a torcida do Flamengo, que me apoia em cada situação”.
No aspecto esportivo, a derrota impõe ao Flamengo a necessidade de reação imediata para não ver o rival direto se desgarrar. A recomposição psicológica após um revés dessa natureza e o ajuste disciplinar para evitar novas baixas precoces serão cruciais na sequência da competição.
Documento do Flamengo expõe divergências sobre critérios de audiência na Libra
Na segunda (06), o UOL divulgou um documento do Flamengo que trata dos critérios de audiência adotados pela Libra, assinado por Rodolfo Landim. A publicação informa que o presidente foi contatado, mas preferiu não se pronunciar, e que usou seu poder de dirigente para concordar com decisão tomada em setembro de 2024. O material reacendeu a disputa sobre a métrica de rateio da cota de audiência no acordo com a Globo.
O contrato firmado pela Libra prevê R$ 1,17 bilhão por temporada, com repartição em 40% igualitários, 30% por performance e 30% por audiência — esta última, cerca de R$ 309 milhões anuais. Em 2024, a regra foi alterada para considerar apenas a audiência de cada jogo, deixando de lado o engajamento das torcidas, mudança aprovada por maioria em agosto, apesar do estatuto prever unanimidade. Flamengo e Volta Redonda votaram contra, e o clube obteve liminar que bloqueou R$ 77 milhões da Globo.
Em nota enviada ao UOL, o Flamengo questionou a exequibilidade do cálculo de audiência, alegando ausência de dados essenciais e a necessidade de ajustar a fórmula para que seja efetivamente aplicável. A contestação mira o Anexo 1 do acordo, apontado como incompleto ao não detalhar os pesos por plataforma dentro do pacote global contratado.
“O texto exclui a parte da ponderação com base nas receitas de cada plataforma de exibição. No contrato, a Globo paga um preço por todos os direitos. Não existe a explicitação de preço por plataforma. Portanto o texto do Anexo 1 não é exequível. Faltam dados essenciais para se aferir os percentuais de rateio. O texto do Anexo 1 precisa ser alterado para que se tenha uma fórmula que possa ser calculada”.
Segundo a coluna, em 06 de setembro de 2024, todos os clubes do grupo teriam concordado com a definição prevista no estatuto, e, em 04 de dezembro de 2024, assinaram o contrato final com a Globo, incluindo o Flamengo. O documento traz a fórmula que embasa a divisão da fatia de audiência por plataforma.
“A Porcentagem de audiência de cada Clube: (Soma do número de indivíduos que assistiram aos jogos ao vivo do Clube como mandante e visitante dividido por dois) dividido pelo número total de indivíduos que assistiram aos jogos da Série A do campeonato na plataforma”.
O impasse agora combina disputa jurídica, questionamentos técnicos e uma frente política sensível, com potencial para afetar repasses e planejamento financeiro dos clubes. A solução exigirá alinhamento entre governança da liga, segurança jurídica do contrato e uma métrica consensual que reflita audiência e valor agregado sem inviabilizar a execução.