Dia 2 de outubro, jogo de ida das semifinais da Libertadores em Porto Alegre. Filipe Luís sente o joelho esquerdo em um lance de ataque do Flamengo e, na volta, o Grêmio empata com Pepê no 1 a 1 que seria o placar final. Diagnóstico após a partida: lesão no ligamento colateral lateral.
A decisão foi pelo tratamento conservador com fisioterapia, não cirurgia, como no caso do uruguaio De Arrascaeta, também com entorse na mesma partida, porém afetando o ligamento colateral medial e o menisco. O objetivo do departamento médico era claro: colocar os dois jogadores à disposição de Jorge Jesus para o jogo da volta contra o tricolor gaúcho, no Maracanã.
O trabalho foi acelerado e queimou etapas, mas dentro de uma margem responsável. Filipe Luís acabou retornando antes do previsto, no Fla-Flu três dias antes do confronto com os gremistas. Respondeu bem nos dois jogos, inclusive salvando o que poderia ter sido o gol gremista no início da partida. A história da semifinal poderia ter sido bem diferente. Ali, Filipe foi herói.
Heroica também foi sua coragem para enfrentar a sequência de partidas: suportou relativamente bem na vitória por 1 a 0 sobre o CSA no Maracanã, mas no empate por 2 a 2 contra o Goiás veio a dor. Também uma certa instabilidade nos movimentos por causa do joelho. A intensidade da partida e a grama fofa do Serra Dourada fizeram estragos.
Não por acaso, Filipe Luís ficou de fora das partidas contra Corinthians e Botafogo no Rio de Janeiro. Para voltar só contra o Bahia, o adversário da estreia precipitada e infeliz no turno com a derrota por 3 a 0 na Fonte Nova e a contratação mais badalada do segundo semestre do time rubro-negro virando meme por correr atrás dos adversários mais rápidos e preparados naquele momento.
Grande atuação no Maracanã de um Filipe “mordido”, apesar da falta de sorte na origem do gol de Elber que abriu o placar no primeiro tempo. Segunda etapa primorosa do camisa 16, com direito a passe de três dedos para Gabriel Barbosa servir Bruno Henrique no gol da virada que terminaria em 3 a 1. O último grande momento do jogador na temporada.
Irregular nos 4 a 4 contra o Vasco, poupado contra o Grêmio em Porto Alegre, atuação muito abaixo na final da Libertadores contra o River Plate em Lima. Alguns problemas contra Dudu e Marcos Rocha nos 3 a 1 sobre o Palmeiras no Allianz Parque e a tragédia contra o Santos na Vila Belmiro, com falha grotesca no segundo gol, de Sánchez. O uruguaio, junto com Marinho e Victor Ferraz, deitaram e rolaram no setor de Filipe.
Não é só o joelho esquerdo que está dificultando a vida do atleta. As temperaturas cada vez mais altas em uma primavera já se aproximando do verão também têm pesado para quem viveu mais de uma década na Europa e já tem 34 anos.
Assim como o desgaste natural da equipe de Jorge Jesus na temporada que diminuiu a intensidade da marcação pressionada desde o campo de ataque, o que acaba sacrificando a última linha defensiva que joga adiantada. Exposto e acostumado no Atlético de Madrid do técnico Diego Simeone a recuar e proteger mais a própria área, as dificuldades ficam bem nítidas.
Eis o problema “silencioso” do Flamengo para o Mundial de Clubes. Com os títulos da Libertadores e do Brasileiro, qualquer pauta que pode ser considerada negativa acaba soterrada pelos justos elogios e premiações individuais – não há como contestar, por exemplo, o prêmio de melhor lateral-esquerdo do Brasileiro no evento da CBF.
Mas o blog apurou que é consenso no clube que os nove dias entre o fim do Brasileiro e a semifinal do Mundial em Doha serão fundamentais para Filipe Luís. Sair do país também. A esperança é de que uma temperatura mais amena no Catar e o gramado de melhor qualidade minimizem os problemas, assim como um Flamengo mais concentrado e intenso, protegendo sua retaguarda.
Jorge Jesus não considera a hipótese de utilizar Renê nas duas últimas partidas de 2019, mas é fato que o lateral reserva tem alcançado um desempenho melhor, principalmente no aspecto defensivo. A confiança em Filipe Luís está intacta, porém o contexto preocupa. O setor esquerdo não pode continuar sendo o “mapa da mina” contra Al-Hilal ou Esperánce na semifinal, muito menos em uma hipotética decisão contra o Liverpool de Salah e Alexander-Arnold.
Mais um desafio para o lateral experiente e vencedor em sua volta ao Brasil.
Retirado de: Blog do André Rocha — Blogosfera