Como o coronavírus mudou a rotina e impactou finanças dos estádios no Brasil

Escudo do Flamengo é exposto próximo a um dos gols, no gramado do Maracanã (Foto: Daniel Castelo Branco)
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A pandemia do coronavírus também impactou os estádios de futebol no Brasil. Há duas semanas sem receber jogos e torcedores, eles agora vivem quase desertos, com o mínimo de funcionários presentes, e geram nos clubes uma preocupação inédita: como amenizar o prejuízo.

Os estádios geram altas despesas operacionais diárias com água, luz, manutenção e segurança.

Em 2018, o São Paulo teve R$ 17,7 milhões de despesas com o Morumbi. O Corinthians gastou R$ 13,3 milhões, sem somar as parcelas pelo empréstimo pela construção da Arena. Já o Palmeiras arcou com 31,9 milhões, valor inflacionando por somar despesas operacionais e jogos.

Os valores não costumam incomodar porque ao longo de uma temporada eles são amortizando com outras receitas. Por exemplo, sem jogos, o São Paulo conseguiu arrecadar R$ 20,8 milhões com o Morumbi em 2018, com venda de camarotes e cadeiras cativas, publicidade, aluguel etc.

Já Corinthians e Palmeiras arrecadaram em jogos (único valor disponibilizado) R$ 60,5 milhões e R$ 112,1 milhões, respectivamente. Vale lembrar que o clube alvinegro não recebe shows na Arena, diferentemente dos dois rivais, que tiveram um show cancelado cada um por causa do coronavírus.

Agora, sem data para as competições serem retomadas, a maioria dos estádios foi oferecida para ser transformada em centro de atendimento contra o coronavírus (leia mais abaixo). Mas ter uma estrutura desse porte parada só ajuda a aumentar o cenário de incerteza sobre as finanças.

“O Beira-Rio tem capacidade maior do que a população de muitas cidades. Estamos falando de um equipamento para 50 mil pessoas. Durante um dia, temos ‘n’ fatores e situações que geram despesas. Água e luz são gastos básicos, mas outros maiores”, disse Alexandre Chaves Barcellos, 51, vice-presidente de futebol do Internacional, para os canais ESPN.

O clube colorado não separa as despesas operacionais do Beira-Rio com o restante do patrimônio do clube. O balanço de 2018 aponta uma despesa total neste item de R$ 26,5 milhões.

Uma medida tomada pela diretoria para tentar amenizar o impacto foi antecipar 20 dias de férias da maioria dos funcionários a partir de 1º de abril. Uma quantidade mínima dos departamentos vistos como essenciais seguirá trabalhando, além de seguranças e equipe de manutenção.

Outros clubes seguiram os mesmos passos, como Corinthians, Palmeiras e São Paulo.

Até mesmo estádios municipais como o Maracanã e o Mineirão estão tendo de repensar suas rotinas. O fechamento de museus e a redução do quadro de funcionários (seja com home office ou férias) também foi aplicado, mas se a paralisação for muito longa o cenário é de caos.

Vale lembrar que o Maracanã é administrado em conjunto por Flamengo e Fluminense, enquanto o Mineirão está sob os cuidados do consórcio Minas Arena, com o Cruzeiro como principal “cliente”.

Veja abaixo a situação detalhada dos principais estádios do Brasil:

Corinthians

Apenas segurança e manutenção trabalham na Arena Corinthians. Todos os demais foram liberadores. O tour turístico está suspenso e a loja foi fechada.

O local vai abrigar uma campanha de doação de sangue nos dias 7, 8 e 9 de abril. A campanha será uma edição especial da coleta de “Sangue Corinthiano”, que acontece duas vezes ao ano.

O clube não informa números de funcionários e despesas diárias.

Cruzeiro/Mineirão

O estádio é administrado pela Minas Arena e tem o Cruzeiro como principal locatário. O acordo pelo uso do estádio até o ano passado dividia as despesas operacionais em 70% para o clube e 30% para o consórcio. A decisão das medidas tomadas por causa da pandemia foram do consórcio.

O Mineirão foi oferecido ao governo do estado para ser utilizado como unidade de tratamento contra o coronavírus se houver necessidade. Todas as atividades no local foram suspensas há duas semanas. Os eventos que ocorreriam foram adiados e um show foi cancelado.

Não foram informados os custos e o impacto sem uso.

Flamengo e Fluminense/Maracanã

Administrado em conjunto por Flamengo e Fluminense, o Maracanã ainda tem algumas equipes operando dentro do estádio, mas em número reduzido em relação à rotina normal.

Já estavam fechados há duas semanas o Museu e o Tour Maracanã, atendendo o plano do governo estadual de contingência contra o avanço da COVID-19.

De acordo com a organização, o número de visitantes nos meses de março e abril de 2019 foi de 10.417 e 8.346, respectivamente. Este ano, a estimativa é de que o Maracanã deixe de ter um faturamento bruto em torno de R$ 492 mil (março) e R$ 327 mil (abril).

Ainda informou que as compras realizadas para a visitação do Tour Maracanã neste período foram automaticamente canceladas e o reembolso feito diretamente no cartão de crédito do visitante.

Grêmio/ Arena Porto-Alegrense

A Arena do Grêmio suspendeu a maioria das atividades administrativas presenciais, bem como atividades do time, é claro.

A área administrativa foi adaptada, com a adoção do trabalho remoto, assim a área de manutenção predial, buscando manter as atividades essenciais de ações preventivas e corretivas, com quantidade reduzida de funcionários e alternância de jornadas para preservar colaboradores e garantir a integridade dos equipamentos primordiais.

Sem maiores detalhes, a Arena informa estar adequando seu planejamento financeiro para passar por este período da melhor forma.

Internacional

Na última sexta-feira, o Internacional antecipou 20 dias de férias para mais da metade dos funcionários a partir de 1º de abril. A exceção são equipes de segurança e manutenção, que foram divididas, e alguns poucos funcionários que trabalham há uma semana em home office.

A perda financeira que preocupa os dirigentes não tem a ver com o estádio vazio, mas com o plano de sócio-torcedor, que conta com mais de cem mil associados que pagam uma tava mensal.

“O Beira-Rio lota com os sócios. Dificilmente colocamos mais de 10% dos ingressos à venda em bilheterias”, explicou Alexandre Chaves Barcellos, o vice-presidente do clube.

A receita de shows não causa impacto. Ela é 100% destinada a Brio (BTG Pactual e Andrade Gutierrez), empresa que administra o Beira-Rio em parceria com o Internacional. O único show adiado até o momento seria no último sábado, o “Buteco do Gusttavo Lima”.

O Internacional também colocou parte do seu equipamento à disposição do governo do Estado, que pode usar o ginásio Gigantinho, dentro do complexo do Beira-Rio, para montar tendas.

Palmeiras

O Allianz Parque foi transformado em um importante centro de apoio de combate ao coronavírus. Na última semana começou com a campanha de vacinação contra a gripe no portão A (rua Palestra Itália), sem necessidade de acessar ou utilizar o gramado sintético do estádio.

O Palmeiras deu também suporte pessoal, liberando uma equipe operacional de segurança, brigada e produtor, uma vez que os agentes de saúde estavam sozinhos.

Apenas um show precisou ser adiado por causa da quarentena. Foi do Backstreet Boys, que deveria ter ocorrido em 15 de março. Vale lembrar que 75% da renda dos shows é da WTorre.

São Paulo

O São Paulo perdeu um show programado para 25 de abril, do Metallica, mas o clube alega que não terá impacto porque o responsável pela locação do Morumbi já havia pago o aluguel.

O departamento de comunicação tricolor informou que 95% dos funcionários foram liberados para ficarem em casa. Já setores como segurança e manutenção continuam presentes no estádio.

O São Paulo ainda informou que, se o estádio for utilizado para campanha de tratamento contra o coronavírus, não será no gramado, mas possivelmente na área das cativas, no segundo anel.

A reportagem apurou que uma das obras que estava em andamento para evitar novos problemas com enchentes dentro do clube acabou paralisada por causa da quarentena.

Retirado de: ESPN