Preparador físico se despede do Flamengo

Escudo do Flamengo é exposto próximo a um dos gols, no gramado do Maracanã (Foto: Daniel Castelo Branco)

Ser unanimidade, em qualquer lugar, é algo raro, muito difícil. Mas não é exagero dizer que Mario Monteiro alcançou esse patamar no Flamengo. Pelo trabalho e pelas relações pessoais, o preparador físico conquistou a simpatia de todos no Ninho do Urubu e passou a ser chamado constantemente de “português mais carioca do mundo”.

Quando Jorge Jesus decidiu voltar a Portugal e ao Benfica, o Flamengo se apressou em fazer uma proposta a Mario, para que ele seguisse como chefe da preparação física do clube. Mas a lealdade ao Mister foi determinante.

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— Eu disse que gostaria muito, mas que tinha firmado compromisso com o meu treinador, dado a palavra a ele. O futebol é assim. Não posso deixar de honrar a minha palavra – afirmou, em entrevista ao ge.

Mario Monteiro em entrevista virtual ao ge (Foto: Reprodução)

Pouco mais de um ano após chegar ao Flamengo, Mario Monteiro viaja nesta quinta para Lisboa. E não esconde a emoção.

— Só uma palavra: saudade. É algo que vai me marcar por toda a vida. Eu brinco com meus amigos que precisaria de um mês para fazer todas as despedidas. Me adaptei perfeitamente ao Rio de Janeiro e ao país. Me senti como um peixe na água. Levo o Rio e os cariocas no meu coração.

Se depender de Mario, este será um até breve. Ele pretende trabalhar com Jorge Jesus por somente mais dois anos, tempo de contrato do técnico com o Benfica, e em seguida, quem sabe, voltar ao Flamengo.

— Essa é minha ideia, falei isso com os dirigentes do Flamengo e com o Dr. Tannure. Quero poder voltar em um futuro bem próximo e trabalhar com outras funções, não no campo.

— Queria trabalhar mais na coordenação da preparação física e também com o futebol de base. E o que me disseram, o próprio presidente me disse, é que as portas ficam abertas – prosseguiu.

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Os demais integrantes portugueses da comissão técnica de Jesus e o “mental coach” Evandro Mota também acompanharam o treinador no retorno ao Benfica. Mas todos, inclusive Mario – o mais antigo da comissão, com 17 anos de parceria -, foram pegos de surpresa com a decisão do Mister.

— Tive várias conversas com ele, mas nunca me transmitiu que iria abandonar o clube. Disse que se sentia bem. Claro que fui pego de surpresa. Duas semanas antes eu tinha até comprado uma moto para poder desfrutar do Rio de Janeiro. Eu lia as notícias e cheguei até a ter uma conversa com ele, mas ele nunca me fez ver que sairia do Flamengo.

Aos 56 anos de idade, sendo 26 de carreira, Mario já trabalhou com centenas de jogadores. No Flamengo, ele rasga elogios à parte física do elenco. Mas um lhe chamou atenção em especial.

— Sei que não devemos falar individualmente de jogadores. Mas que todos os outros me desculpem… É o Bruno Henrique, sem dúvida. Eu o apelidei de “Cavalo Lusitano”. É fora do normal, é minha referência.

Mario Monteiro observa Bruno Henrique durante treino do Flamengo (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Outro profissional que chamou atenção de Mario foi Roberto Oliveira, o Betinho, preparador físico que faz parte da comissão técnica permanente do Flamengo.

— Sou mais velho e mais experiente, mas também aprendi com ele. Me ensinou algo numa área global. É um cara do bem, muito competente. O clube precisa dele. O Flamengo tem que pensar um pouquinho no cara que tem. Poderia perfeitamente assumir as funções de preparador físico. Eu soube que o novo treinador está trazendo um preparador físico (o espanhol Julián Jiménez), mas dois nunca é demais. O Betinho é excelente.

Jorge Jesus e sua comissão fizeram um trabalho de sucesso ao longo de um ano, tirando o máximo dos jogadores. E passaram longe da cultura de poupar em meio ao calendário cheio. Mario Monteiro é só elogios ao grupo do Flamengo, à estrutura do clube, à toda equipe de preparação física e ao departamento médico. E deixa uma mensagem em relação a esse trabalho feito.

— É muito importante, mesmo quando você tem muitos jogos, não pensar que se tem que mudar o time todo após um jogo. Você pode mudar um ou outro jogador, pois o jogador em si precisa de ritmo, de rotina. Quando você tem um jogador que faz 30, 40 jogos, se o tirar do jogo seguinte você vai ter uma quebra, mentalmente não será bom. Acho muito importante que os jogadores mantenham sempre os índices elevados de competição. Se você muda constantemente porque pensa que vai descansar o jogador, isso não é verdade. Há situações pontuais, quando um jogo é muito desgastante e você tem nas mãos um elenco muito homogêneo… Mas substituir mais que três não fica bem, e a equipe perde seu conjunto.

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Dentro de campo, foram cinco títulos: Libertadores e Brasileiro em 2019; Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Carioca em 2020. Fora dele, Mario viveu intensamente o Rio de Janeiro. Fez muitos amigos. Realizou um desejo antigo de ir a comunidades a partir, principalmente, do roupeiro do Flamengo, Moisés, que se tornou um grande parceiro. E conheceu a noiva, uma paulista, em uma festa no Vidigal.

— Foi o momento mais feliz de toda a minha carreira, que culminou com todos esses títulos que conquistamos.

O Brasil, o Rio de Janeiro e o Flamengo estarão para sempre no coração de Mario Monteiro.

Retirado de: Globo Esporte