Pressão sob Rogério Ceni diminui após mais um título pelo Flamengo

Ceni orienta o time do Flamengo durante o jogo contra o La Calera pela Copa Libertadores de 2021 (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Acostumado a ser ídolo durante toda a carreira, como goleiro do São Paulo ou já como técnico do Fortaleza, Rogério Ceni vive no Flamengo uma prova de fogo: a convivência com as críticas, as justas e as injustas, a pressão da mídia e de uma torcida que nos últimos anos se acostumou a vencer e a ganhar títulos. Mas será que a conquista do Carioca e o inédito hexa-tri vão amenizar o clima e diminuir o peso nas costas do treinador?

Ceni nunca foi uma unanimidade desde que chegou ao Ninho do Urubu. Dele falou-se muita coisa: da inexperiência para dirigir um gigante como o Flamengo, da fama de ser autoritário, turrão e desagregador de ambientes e da falta de um DNA rubro-negro. O que menos se discutiu naquele momento foi sua capacidade, seu jeito de ver o futebol e de armar seus times.

O começo turbulento, com as eliminações na Copa do Brasil – antes mesmo que ele tivesse tempo de dizer a que veio – e da Libertadores, e algumas derrotas fora do script, só contribuíram para aumentar resistências e questionamentos. Já havia, com pouco mais de um mês de trabalho, quem pedisse a sua cabeça.

Sequências de vitórias e os bons resultados têm abafado a cornetagem. Tem sido assim até que uma nova e natural derrota aconteça. Nem a conquista do título brasileiro do ano passado serviu para garantir um minimo da estabilidade necessária ao trabalho de qualquer técnico.

Rogério tem erros e acertos. Como, aliás, todos, até Jorge Jesus, tiveram no comando do Flamengo. Como esquecer a lambança daquela escalação do time contra o Emelec (EQU), um susto que quase impediu a classificação para as quartas da Libertadores em 2019? Foi bem antes do Mister se tornar um mito rubro-negro, lembrem-se. Mas de Jesus tudo era tolerado.

Pode-se responsabilizar Rogerio por muita coisa. No liquidificador das críticas estão a insistência com Gustavo Henrique e Bruno Viana, a incapacidade – pelo menos até aqui – de corrigir as falhas do setor defensivo, a relutância em escalar Gabigol e Pedro juntos, o apego a um Everton Ribeiro em má fase, substituições que ao longo dos jogos não surtiram efeito.

Mas há algo que não se pode negar: não é por falta de coragem de arriscar e de ousadia do seu treinador que os problemas do Flamengo não são resolvidos. Inventar William Arão como zagueiro, arrumar uma vaga para Diego como volante sem mexer no quadrado mágico que sustenta o time foram decisões corajosas de que poucos treinadores lançariam mão.

As pressões para a saída de Ceni vão certamente diminuir com a conquista deste sábado. Mas não se iludam, será por pouco tempo. Resultados à parte, até quando a diretoria do Flamengo vai manter seu compromisso e a avaliação positiva do treinador – não foram raros os elogios à forma de Rogério trabalhar até aqui – é uma incógnita. No futebol brasileiro não vale o escrito, o dito e o não dito se confundem e o que hoje é verde amanhã se torna vermelho. Tudo é possível. E ainda há a sombra de Renato Gaúcho no ar dizendo que quer trabalhar no Rio.

Mas, se de fato ficar, Ceni tem de ter em mente que para dirigir o Flamengo, uma Nação, é preciso mais do que coragem, ousadia ou mesmo qualidades técnicas. É preciso ter casca grossa para suportar o peso que isso tem. Por muitos anos o fantasma de Jorge Jesus ainda vai pairar sobre o Ninho. Para o treinador, vida tranquila não haverá. É vencer ou vencer para sobreviver.

Retirado de: Lance