
A criação de uma liga independente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desejada pelos clubes da Série A do Brasileirão, se concretizada, será um grande avanço para o futebol brasileiro. No entanto, apesar de positiva, a ideia é cercada de incertezas e desconfianças. Um dos maiores questionamentos está no respaldo econômico que ela teria que ter para se tornar viável para as equipes.
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Esse talvez seja um dos principais problemas que os clubes enfrentam para avançar com a criação da liga, que ficaria responsável por organizar o Campeonato Brasileiro, hoje produto da CBF.
— É muito difícil de dizer quanto a liga precisaria de dinheiro para se tornar viável. Os clubes atualmente não dependem da CBF para fazer receitas, exceto pela Copa do Brasil, de forma que a criação de uma liga seria apenas uma oportunidade para tentarem buscar novas receitas, mas especialmente de organizarem alguns temas como a negociação de direitos de TV, afirma o economista César Grafietti.
Tiago Gomes, advogado especialista em direito comercial, explica que a criação da liga trará consequentemente custos para sua organização.
— Teoricamente falando, organizar uma liga traz ônus e bônus aos clubes. Admitindo que a Liga seja totalmente independente da CBF – o que ainda é uma mera especulação – ela vai exigir uma estrutura organizacional, que tem custos consideráveis, além das despesas de logística e com a própria premiação dos clubes. Ou seja, os custos são altos, afirma.
— Mas há o outro lado. Os clubes, por meio da Liga, passam a ser donos do produto. E isso traz uma infinidade de oportunidades de exploração desse produto que hoje está a cargo da CBF. Há desde as propriedades mais óbvias, como os naming rights e patrocínios diversos, passando por receitas decorrentes da negociação coletiva de direitos de transmissão, negociação de publicidade estática, entre outros. E há, ainda, propriedades que alguns clubes já começam a explorar individualmente, mas que podem passar a ser explorados coletivamente gerando ainda mais valor agregado, como, por exemplo, a criação de aplicativos com gamificação e camadas de conteúdo exclusivo para assinantes, geração e comercialização de estatísticas para sites e casas de apostas, etc, completa o advogado.
Conforme o blog Lei em Campo explicou, a questão jurídica nunca foi um problema para a criação de ligas independentes no Brasil, uma vez que há respaldo na Lei Pelé e na Constituição Federal.
Para uma liga ser criada, é necessário antes de mais nada, que ela seja benéfica financeiramente para os clubes, como estava previsto para ser a Superliga Europeia, competição criada pelos 12 clubes mais poderosos da Europa que pretendia fazer concorrência à Champions League.
A Superliga Europeia tinha o respaldo financeiro do poderoso JP Morgan. O banco acertou aportar recursos de mais de 3 bilhões de euros na “dotação da infraestrutura” da competição. Quem bancará o projeto dos clubes no Brasil? A CBF tem aumentado as premiações aos clubes nas competições, mesmo assim os clubes, endividados e massacrados pela crise global, acham que a fatia tem que ser melhor distribuída, ainda mais com a entidade faturando cerca de um bilhão de reais por ano.
— Casos como a Superliga ou mesmo as negociações recentes envolvendo a Liga Seria A italiana estão associados à antecipação de receitas de negociação de direitos de transmissão. Quanto vale isso? Tanto quanto a liga e algum financiador acreditam num potencial crescimento das receitas, questiona Grafietti.
Apesar do otimismo dos clubes com a possível criação da liga, ainda não foi detalhado como seria a estrutura financeira dela. Quem iria financia-la? Qual seria a premiação? Ainda há muito o que se explicar.
O documento (confira à baixo) foi entregue para a diretoria da CBF em uma reunião na tarde da última terça (15), na sede da entidade, no Rio de Janeiro.
Documento entregue pelos clubes à CBF:
“Por unanimidade dos presentes, 19 Clubes da Série A do Futebol Brasileiro – em razão de diversos acontecimentos que vêm se acumulando ao longo dos anos e que revelam um distanciamento total e absoluto entre os anseios dos clubes que dão suporte ao futebol profissional brasileiro e a forma como que é gerida a CBF – reunidos nesta data, decidiram adotar postulações e resoluções na forma abaixo elencada:
1) Requerer a imediata alteração estatutária que consagre uma maior participação dos Clubes nas decisões institucionais e na gestão da CBF, admitindo-se os clubes como filiados desta entidade;
2) Dentre os itens desta alteração estatutária, necessariamente deve ser incluída a votação igualitária nas eleições para escolha do Presidente e Vice-Presidentes da CBF, sendo certo que Federações e Clubes das Séries A e B terão seus votos contados de forma unitária e com o mesmo peso entre si;
3) Ainda no que se refere à alteração estatutária, inclui-se o fim dos requisitos mínimos para inscrição nas chapas concorrentes à eleição desta entidade, abolindo-se a necessidade de apoio de 8 (oito) federações e 5 (cinco) Clubes, permitindo-se o lançamento de chapas que tenham o apoio expresso de, ao menos, 13 eleitores independente de serem clubes ou federações;
4) Comunicar a decisão da criação imediata de uma Liga de futebol no Brasil, que será fundada com a maior brevidade possível e que passará a organizar e desenvolver economicamente o Campeonato Brasileiro de Futebol. Além dos Clubes signatários, os Clubes da Série B serão convidados a integrara a Liga.
Os clubes adotarão medidas efetivas para consumar a sua associação, para, de forma organizada, exercerem a administração do futebol brasileiro e do seu calendário.”
Créditos do texto: Gabriel Coccetrone – Lei em campo – UOL