A transição do controle da SAF do Cruzeiro, concluída em abril de 2023, representou mais do que a substituição de um acionista. A troca de Ronaldo por Pedro Lourenço, empresário do setor varejista e dono dos Supermercados BH, marcou uma inflexão na política financeira do clube. Anteriormente focado na contenção de gastos, a Raposa passou a adotar uma abordagem mais agressiva em investimentos, sobretudo no departamento de futebol.
Notícias mais lidas:
Pedro Lourenço assumiu o comando com 90% das ações, enquanto os 10% restantes permaneceram com a associação civil, presidida por Lidson Potsch. Desde então, a diretoria composta por Pedro Junio e Alexandre Mattos intensificou os aportes na montagem do elenco.
Avanço nas receitas, desequilíbrio financeiro
Conforme o balanço financeiro divulgado em abril deste ano, a receita operacional líquida do Cruzeiro cresceu de R$ 207,6 milhões, em 2023, para R$ 282,7 milhões em 2024. O valor superou com folga o mínimo de R$ 350 milhões estipulado no acordo de acionistas para ser atingido até 2027.
Entre as principais fontes de arrecadação em 2024, destacam-se os direitos de transmissão e premiações (R$ 138,1 milhões), patrocínios (R$ 57,9 milhões), bilheteria (R$ 51,1 milhões) e o programa Sócio 5 Estrelas (R$ 32,4 milhões). Houve ainda receitas com royalties e licenciamentos (R$ 15,4 milhões), além do mecanismo de solidariedade da FIFA (R$ 10,9 milhões).
Entretanto, esse avanço não impediu o desequilíbrio financeiro. A despesa total com o futebol profissional atingiu R$ 395 milhões, mais que o dobro dos R$ 176 milhões gastos no exercício anterior. O rombo do clube chegou a quase R$ 170 milhões, com prejuízo operacional estimado em R$ 112 milhões.
Aumento expressivo do endividamento
O passivo total da SAF celeste saltou de R$ 903 milhões, em 2023, para R$ 1,31 bilhão em 2024. Considerando os ativos, a dívida líquida fechou o ano em R$ 981 milhões, contra R$ 749 milhões no fim do ano anterior.
Grande parte dessas obrigações está relacionada à recuperação judicial da associação civil, que totaliza R$ 590 milhões. Outro componente relevante é a compra dos centros de treinamento Toca da Raposa 1 e 2, avaliada em mais de R$ 200 milhões.
Além disso, as dívidas tributárias cresceram e alcançaram R$ 236,7 milhões, aumento de quase R$ 40 milhões em relação ao período anterior. O clube também precisará continuar desembolsando cerca de R$ 30 milhões anuais ao ex-dono Ronaldo, em parcelas da aquisição da SAF.
Contratações pesam no balanço
A nova administração apostou em reforços de peso para tentar acelerar o crescimento esportivo. O relatório aponta que foram investidos R$ 331,9 milhões em aquisições de jogadores, valor registrado como ativo intangível. Entre os principais nomes contratados estão Walace, Matheus Henrique e Kaio Jorge.
Em contrapartida, o montante devido por contratações aumentou de R$ 29 milhões, em 2023, para R$ 183 milhões ao fim de 2024.
Importante destacar que esses números ainda não incluem valores de reforços anunciados mais recentemente, como Gabigol, Dudu e Fabrício Bruno. Aliás, Dudu já deixou o elenco antes mesmo de completar um ciclo no clube, mantendo pendências contratuais a serem quitadas.
Cenário desafiador
Apesar da elevação nas receitas e do empenho em quitar dívidas herdadas, as correções monetárias e os juros superaram os pagamentos realizados, o que impediu a redução efetiva do passivo. A dívida do Cruzeiro, que havia diminuído em 2022, voltou a subir, atingindo o maior patamar da série histórica iniciada em 2017.