Torcedores viajam por dois meses para acompanhar time na Libertadores

Taça da Libertadores. (Foto: Divulgação)

A presença de 31.391 torcedores na Arena Castelão nesta terça-feira (13), às 21h30, reflete a grandiosidade da fase de grupos da Libertadores, mas nenhum relato se destaca tanto quanto a jornada de torcedores do Bucaramanga. Um grupo de 32 colombianos protagonizou uma verdadeira saga continental, motivados pelo amor ao clube e pelo desejo de testemunhar, ao vivo, o confronto diante do Fortaleza pela quinta rodada do Grupo E.

Os integrantes da organizada Fortaleza Leoparda Sur iniciaram a jornada ainda em março. Para cruzar a América do Sul, passaram por Equador, Peru e Bolívia, até alcançarem o Brasil por meio da fronteira no Mato Grosso do Sul.

Conforme relataram, o trajeto envolveu caronas em caminhões, travessias fluviais, ônibus de rodoviária em rodoviária e noites passadas em calçadas. “Foram dois meses muito difíceis, mas cumprindo o sonho de chegar somente pelo jogo da Copa Libertadores”, revelou um dos torcedores, emocionado com a experiência.

A epopeia ganhou novos contornos ao chegarem à capital cearense. Sem recursos financeiros suficientes para hospedagem e alimentação, recorreram à venda de pulseiras artesanais nas praias e ruas da cidade. Em meio à incerteza, foram acolhidos por membros da Bravo 1918, torcida organizada do Fortaleza, que cederam abrigo, alimentos e apoio logístico.

Flávio Júnior, presidente da Bravo, relatou que o grupo colombiano inicialmente dormia na Praia de Iracema. Após o contato com os cearenses, cinco torcedores foram levados à sede da organizada, onde encontraram ventiladores, colchões improvisados, banheiro e segurança.

“A gente os abraçou. Eles puderam ficar lá e aproveitar bastante”, disse. Posteriormente, todos os 32 integrantes foram acomodados no local.

O gesto de solidariedade surpreendeu os visitantes, que expressaram gratidão ao longo dos dias. “Eles nos acolheram para termos um teto. Vendemos pulseirinhas na rua. Tudo isso é um sacrifício dos torcedores. Obrigado aos brasileiros que nos ajudaram”, declarou um dos líderes do grupo, evidenciando o peso emocional da recepção.

Em contrapartida, a relação entre as torcidas já possuía um histórico de cordialidade. Segundo a diretoria da TUF, durante a ida do Fortaleza à Colômbia, os cearenses foram bem recebidos pela torcida rival, o que motivou a atitude de retribuição. “Prezamos pela reciprocidade e fizemos o mesmo, abrindo as portas da nossa sede social”, destacou a nota oficial da torcida brasileira.

Aliás, essa irmandade entre torcedores de diferentes países proporcionou experiências além da Libertadores. O grupo do Bucaramanga também foi levado para acompanhar um jogo do Fortaleza pelo Brasileirão, no estádio Presidente Vargas, contra o Juventude. A conexão, portanto, ultrapassou as quatro linhas.

A distância entre Bucaramanga e Fortaleza, que é de 4.062 quilômetros em linha reta e pode chegar a 7.260 km por terra, foi vencida não apenas com esforço físico, mas com uma força simbólica rara no futebol atual. “É a segunda vez que nosso time joga a Libertadores.

A primeira foi em 1998. A gente passou por quatro países vendendo pulseirinhas, pegando carona, pegando ônibus”, explicou Camilo Giraldo, destacando a magnitude do feito para o clube e sua torcida.

Portanto, a partida entre Fortaleza e Bucaramanga não se limita à disputa por pontos no Grupo E. O confronto tornou-se também palco de uma história de sacrifício, acolhimento e amor pelo futebol.