O impacto de Neymar Jr. no futebol mundial, especialmente após sua transferência para o Barcelona em 2013, ultrapassou os gramados. Conforme o jogador se destacava, seu pai, Neymar da Silva Santos, consolidava um império baseado na imagem do filho, expandindo sua influência para além do campo, chegando à seleção brasileira, à imprensa e ao Grupo Globo.
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O episódio mais recente do podcast “Neymar”, do UOL, revela como o pai do atleta utilizou a projeção do atacante para moldar decisões e estabelecer relações que, em muitos casos, extrapolavam os limites esportivos.
Interferência na rotina da seleção
Antes da Copa América de 2015, o estafe do pai de Neymar articulava diretamente com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) os compromissos públicos do jogador. Um e-mail obtido pela reportagem comprova que entrevistas, aparições e até a data de apresentação do atacante à seleção eram submetidas à aprovação do pai por meio de sua assessoria.
Esse controle se estendia a detalhes como a criação de um grupo exclusivo de WhatsApp para aprovação prévia de conteúdos da CBF envolvendo Neymar. As decisões da confederação sobre o uso da imagem do camisa 10 passaram, inclusive, a adotar oficialmente a marca “Neymar Jr.” após pedido direto da NR Sports, empresa administrada pelo pai.
Globo e controle editorial
Em 2014, foi firmado um contrato entre Neymar pai e a Globo. O acordo estabelecia, entre outros pontos, a hospedagem de um site com conteúdos sobre o jogador na infraestrutura da emissora. Contudo, documentos e relatos demonstram que essa parceria foi além do previsto contratualmente.
Havia constante troca de mensagens entre membros da NR Sports e jornalistas da emissora. Em diversas ocasiões, reportagens eram enviadas ao estafe do jogador antes da publicação, oferecendo espaço para sugestões e alterações. Um exemplo emblemático foi o envio de um vídeo produzido por Neymar, que seria veiculado como conteúdo de torcedor, estratégia acordada entre as partes.
Em julho de 2014, após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo, o jogador foi convencido pelo pai a conceder entrevista ao programa “Fantástico”, sob a condição de não tocar no tema “seleção brasileira”. Ao perceber que a gravação violava esse acordo, Neymar pai chegou a cogitar pedir a não exibição da matéria. A Globo, no entanto, não atendeu à solicitação.
Em resposta à reportagem, a emissora afirmou que o contrato assinado em 2014 nunca permitiu qualquer interferência no conteúdo jornalístico.
Gestão de imagem e conflitos comerciais
As estratégias de Neymar pai visavam também resguardar os interesses comerciais associados ao filho. Durante a Copa América, era comum que a equipe da CBF revisasse previamente os troféus de melhor em campo a fim de evitar conflitos com patrocinadores pessoais do jogador.
Em uma ocasião, Neymar apareceu em imagens pedalando uma bicicleta patrocinada pelo Itaú, parceiro da CBF, o que gerou atrito com o Santander, patrocinador pessoal do atleta. Em outra situação, a presença do craque em uma campanha da cervejaria Proibida, em 2018, provocou uma reação judicial conjunta entre CBF e Ambev, que optaram por não envolver o jogador nem seu pai diretamente no processo.
Ao longo dos últimos dez anos, mesmo com contratos que permitiam à CBF usar a imagem de seus atletas em “contexto coletivo”, qualquer utilização envolvendo Neymar exigia aprovação prévia da NR Sports, medida que não se aplicava a outros jogadores.