O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, foi formalmente indiciado pela Polícia Federal sob acusação de envolvimento em esquema de manipulação de resultados. A investigação teve início após operadores do mercado de apostas esportivas relatarem movimentações atípicas em torno de um cartão amarelo recebido pelo jogador durante a partida contra o Santos, válida pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2023, disputada em Brasília.
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Na ocasião, o atleta, que já havia recebido cinco advertências ao longo da competição, recebeu o cartão nos acréscimos do segundo tempo, após cometer falta em Soteldo. Logo depois, ainda foi expulso por reclamação com o árbitro Rafael Klein.
Envolvimento de familiares e provas reunidas
Além do camisa 27, outras nove pessoas foram indiciadas. Entre elas, estão o irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, a cunhada Ludymilla Araújo Lima e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso. Todos teriam realizado apostas específicas relacionadas ao cartão.
Conforme a apuração, três casas de apostas identificaram que entre 95% e 98% das apostas da partida estavam concentradas no cartão amarelo de Bruno Henrique.
A Polícia Federal executou uma operação de busca e apreensão em novembro do ano passado, incluindo visitas ao CT do Flamengo e à residência do atacante. Durante a ação, foram apreendidos telefones celulares. Em um dos aparelhos, foi localizada uma troca de mensagens em que o jogador responde ao irmão sobre o momento em que receberia o terceiro cartão: “Contra o Santos”.
Esferas penal e desportiva
Conforme explica o advogado especializado em Direito Desportivo, Andrei Kampff, o caso tramita em duas esferas distintas: a Justiça Comum e a Justiça Desportiva.
Na primeira, Bruno Henrique foi indiciado com base no artigo 200 da Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023), que trata de fraudes em competições esportivas, e também poderá responder por estelionato (Art. 171 do Código Penal) e por organização criminosa (Lei nº 12.850/2013). As penas somadas podem alcançar até 11 anos de reclusão.
Já no campo esportivo, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) instaurou um inquérito disciplinar para apurar o ocorrido. O auditor Maxwell Borges de Moura Vieira foi designado para elaborar um relatório no prazo de 15 dias, prorrogáveis por mais 15.
Nesse meio tempo, como não houve solicitação de suspensão preventiva, o atleta segue à disposição do Flamengo e já disputou seis partidas desde o indiciamento, sem marcar gols ou contribuir com assistências.
Trâmite atual e garantias processuais
Atualmente, o Ministério Público do Distrito Federal avalia as provas para decidir sobre eventual denúncia. Por sua vez, o STJD aguarda o recebimento oficial dos documentos enviados pela PF. A Justiça já autorizou o compartilhamento dos dados com o tribunal esportivo e com a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, instaurada no Senado.
Apesar da gravidade das acusações, o processo segue respeitando os princípios constitucionais, como o direito à ampla defesa e a presunção de inocência. “É preciso haver prova clara, concreta, cabal e definitiva para que qualquer condenação ocorra”, declarou o jurista Andrei Kampff.
Possíveis consequências
No âmbito criminal, se condenado, o jogador poderá ser sentenciado a até seis anos de prisão apenas pela fraude esportiva, além de multa. No caso de condenação também por estelionato, a pena pode aumentar em até cinco anos. No plano desportivo, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva prevê suspensão de até dois anos e, em caso de reincidência, banimento definitivo do futebol.