A declaração de Carlos Mansur direcionada a Ancelotti na Seleção Brasileira

Carlo Ancelotti como técnico da Seleção Brasileira de Futebol (Foto: CBF/Rafael Ribeiro)

A chegada de Carlo Ancelotti à seleção brasileira foi cercada de grande expectativa. Contudo, conforme ressaltado por Carlos Eduardo Mansur, não há, de fato, um planejamento estruturado por parte da CBF. O que existe é a simples expectativa de que o treinador italiano resolva, sozinho, todos os dilemas de um futebol que há anos carece de diretrizes claras.

Inegavelmente, Ancelotti é um dos técnicos mais vencedores do futebol mundial. Sua apresentação gerou enorme comoção, que se manifestou até em uma cerimônia recheada de simbolismos. Entretanto, a lista de convocados apresentada não trouxe grandes novidades: dos 25 nomes anunciados, 23 já haviam sido chamados durante o atual ciclo pós-Copa do Catar.

Assim, ficou evidente que o treinador, por enquanto, apenas ajusta as peças já disponíveis, sem reinventar o time.

A seleção, a crise e a projeção de um salvador

A cobertura e o tratamento dispensado ao novo comandante foram reveladores de uma postura recorrente. Ao longo dos anos, o futebol brasileiro passou a negligenciar o investimento na formação de seus treinadores, tornando-os alvos de descartabilidade.

Pressionados por resultados imediatos, muitos técnicos nacionais viraram reféns de decisões de curtíssimo prazo. Como resultado, o ambiente se tornou estéril para o surgimento de trabalhos autorais.

Neste cenário, a chegada do então técnico do Real Madrid simboliza uma tentativa de resgate. Afinal, a imagem de um treinador consagrado à frente da equipe nacional foi acolhida quase como um gesto de salvação. Ainda assim, como pontuado por Mansur, a euforia beira o excesso:

“Houve momentos em que a grandiosidade da coisa ameaçou cruzar a fronteira entre o acolhimento carinhoso e a imagem de um país curvado a seu salvador”.

A missão impossível e a ausência de estrutura

Mesmo com todo seu prestígio, Ancelotti terá um desafio enorme: preparar uma equipe competitiva com apenas um terço do ciclo tradicional entre Copas. Ou seja, com pouquíssimos treinos e um tempo bastante reduzido de adaptação.

Além disso, o técnico lida com uma realidade na qual o país oferece abundância em algumas posições — como zagueiros, atacantes e goleiros — mas enfrenta carências notórias em outras, como meias criativos e laterais com protagonismo.

A CBF, segundo o colunista, não demonstrou intenção de absorver a vasta experiência do italiano para fortalecer o ecossistema do futebol nacional. Dessa forma, a escolha por Ancelotti, embora coerente em termos técnicos, é tratada como uma simples aposta na conquista do título mundial. Nas palavras de Mansur, “a encomenda é ganhar a Copa como for possível, algo que treinador algum pode garantir”.

A dependência do acaso e o risco da frustração

A confiança cega no novo treinador evidencia um vício recorrente do futebol nacional: a crença de que nomes consagrados, por si só, serão capazes de solucionar problemas estruturais. Contudo, a ausência de um projeto contínuo e a dependência de fatores incontroláveis — como o acaso de uma bola na trave ou uma disputa por pênaltis — tornam essa aposta ainda mais arriscada.

Portanto, embora Ancelotti possa, sim, conquistar o tão sonhado hexa, o futebol brasileiro pode, paradoxalmente, não sair vitorioso. Afinal, sem planejamento, estrutura e valorização de seus próprios profissionais, o risco de estagnação permanece.