O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) emitiu pareceres a respeito de movimentações bancárias envolvendo o Corinthians, durante a administração de Augusto Melo. Segundo os relatórios, as transações realizadas entre janeiro e junho de 2024 foram classificadas com características de operações destinadas a “burlar a identificação da origem, do destino e dos responsáveis”.
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A constatação parte de padrões estabelecidos pelo Banco Central para identificar práticas suspeitas, amplamente utilizados em notificações aos órgãos de investigação.
Os documentos do COAF apontam que os R$ 808 milhões movimentados pelo clube no período — divididos entre R$ 404 milhões recebidos e outros R$ 404 milhões pagos — incluem repasses significativos para empresas que levantaram suspeitas.
Entre essas, está a Rede Social Media Design, ligada a Alex Cassundé, acusado de operar o esquema de desvio relacionado ao contrato com a casa de apostas VaideBet.
Relações com empresas intermediárias
Conforme a apuração do COAF, parte desses recursos circulou por empresas intermediárias de pagamento, dificultando a rastreabilidade dos valores. Essa fragmentação no fluxo financeiro, aliás, é considerada um indício clássico de tentativa de ocultação.
Além disso, identificaram-se 55 saques em espécie diretamente no caixa, totalizando R$ 1.128.496,00 — com média superior a R$ 20 mil por operação — e 141 depósitos em dinheiro, num total de R$ 374.452,00.
Outro ponto mencionado no relatório envolve o pagamento de R$ 294 mil a uma empresa de segurança cujo sócio chegou a receber auxílio emergencial na pandemia, o que contribuiu para reforçar a suspeita de irregularidades na escolha e contratação dos prestadores de serviço.
Pagamento à ex-patrocinadora com verba suspeita
Surpreendentemente, o COAF também identificou que os R$ 20 milhões usados pelo Corinthians para quitar uma dívida contratual com a ex-patrocinadora Pixbet tiveram origem na empresa OTSAFE, de Curitiba. A entidade questiona a capacidade da empresa de realizar tal repasse, dado que seus valores operacionais estavam “muito acima do seu faturamento declarado”.
A OTSAFE mantém vínculos com a ZenetPay, que por sua vez gerencia plataformas de apostas como a VaideBet, atual parceira do clube.
Ainda segundo a análise, o pagamento à Pixbet referia-se a uma multa por quebra de contrato, devido à exigência de exclusividade da marca no uniforme corinthiano. A empresa deixou o clube após o acerto com a VaideBet em janeiro de 2024, e cobrou o valor na Justiça, alegando inadimplência por parte do time paulista.
Consequências jurídicas e afastamento
As investigações conduzidas com base nos relatórios do COAF levaram à instauração de inquérito pela Polícia Civil de São Paulo. Augusto Melo, Alex Cassundé, Marcelo Mariano e Sérgio Moura foram indiciados por crimes como lavagem de dinheiro, furto qualificado e associação criminosa.
A Justiça também negou habeas corpus solicitado pela defesa de Melo, que alegava falta de fundamentos e ilegalidade no indiciamento. A juíza responsável refutou as argumentações, afirmando que não havia abuso nas medidas adotadas pela autoridade policial.
Atualmente, o caso está em trâmite no Ministério Público de São Paulo, que analisará a denúncia para eventual apresentação à Justiça. Enquanto isso, Melo segue afastado da presidência do clube, cargo agora ocupado interinamente por Osmar Stabile, até que a assembleia geral dos sócios ratifique ou revogue a decisão do Conselho Deliberativo.