Neymar pode ter influenciado na chegada de Ancelotti à CBF

Neymar em ação com a camisa do Santos em 2025 (Foto: Raul Baretta/ Santos FC)

A ligação entre Diego Fernandes e a família de Neymar, construída ao longo dos anos, foi decisiva para sua ascensão nos bastidores da seleção brasileira. CEO da 08 Partners e com histórico no setor financeiro, Fernandes se aproximou dos atletas oferecendo serviços de câmbio e investimentos. Entre os jogadores, o empresário desenvolveu uma relação próxima com o camisa 10 da seleção e seu entorno.

Desde 2018, fotos ao lado de Jota Amâncio, amigo íntimo do atacante, estão presentes nas redes sociais, assim como registros da apresentação de Neymar na Vila Belmiro, da qual participou junto a familiares e amigos do atleta.

Essa aproximação não se restringe ao campo profissional. Em diversas ocasiões, o empresário demonstrou vínculo afetivo com o jogador e seu círculo, a ponto de Jota publicar, após a chegada de Carlo Ancelotti ao Brasil, uma foto com a legenda: “Missão cumprida com meu sócio para o bem da nossa nação. O homem disse sim”.

Embora negue que a relação com Neymar tenha influenciado diretamente na contratação do treinador italiano, Fernandes admitiu manter conexões duradouras com diversos atletas da seleção, incluindo o pai do craque, com quem também compartilha amizade.

Articulações com a antiga gestão da CBF

O protagonismo de Diego na negociação com Ancelotti só foi possível graças à boa relação com o então presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Frequentador de treinos e do gabinete da presidência, o empresário ganhou espaço ao ponto de ser autorizado a representar a entidade em conversas com o técnico, ainda quando ele dirigia o Real Madrid.

Na ocasião, Fernandes viajou à Espanha, participou de reuniões e embarcou no mesmo jato que trouxe Ancelotti e sua comissão técnica ao Brasil. O transporte foi custeado pela confederação, e o empresário ainda recebeu um lugar de destaque na cerimônia de apresentação do técnico, além de ser mencionado em postagem oficial da CBF.

O contrato, firmado sob a gestão de Ednaldo, também previa comissão de 1,2 milhão de euros (R$ 7,6 milhões) e reembolso de custos com viagens .

Mesmo com a mudança no comando da entidade — após o afastamento judicial de Ednaldo e a posse de Samir Xaud —, os termos do acordo estão sendo respeitados. Apesar disso, a nova administração não mantém a mesma proximidade com o empresário, que chegou a ser ignorado em aparições públicas durante a transição.

Imagem e bastidores

Diego Fernandes construiu sua notoriedade fora dos holofotes tradicionais. Antes de entrar em cena nas negociações, mantinha perfis fechados nas redes. Com a exposição gerada pelo caso Ancelotti, sua conta no Instagram ultrapassou 26 mil seguidores.

Em busca de consolidar sua imagem pública, contratou assessorias de imprensa e passou a circular com mais intensidade nos ambientes da seleção, incluindo o hotel onde ocorreu a primeira convocação do técnico europeu.

No passado, Fernandes também esteve envolvido em projetos controversos. Foi sócio da empresa “Panela FC”, que buscava comercializar cotas de jogadores como forma de investimento coletivo. A iniciativa foi interrompida em 2015 por não possuir licença da Comissão de Valores Mobiliários.

Apesar disso, o empresário recorda com entusiasmo a parceria com Assis Moreira, irmão de Ronaldinho Gaúcho, que promovia a marca.

Primeira missão oficial

A negociação com Ancelotti representou o primeiro envolvimento direto de Fernandes como intermediador em uma contratação de técnico ou atleta. Segundo ele, as tratativas mais intensas começaram cerca de 40 dias antes do anúncio oficial. Contudo, a missão que deveria ser discreta acabou sendo revelada pela imprensa espanhola, gerando desconforto tanto na CBF quanto no Real Madrid.

Ao falar sobre sua atuação, Fernandes enfatizou a motivação patriótica: “Quando fui convidado, achei isso uma oportunidade como brasileiro, para ajudar a seleção a ter um melhor treinador e que pudesse contribuir para a história do futebol”.