John Textor, empresário e acionista relevante de clubes como Botafogo, Lyon e RWD Molenbeek, decidiu recuar de sua tentativa de adquirir uma fatia maior do Crystal Palace. Em meio a questionamentos da UEFA sobre a propriedade múltipla de clubes em competições europeias, ele reconheceu publicamente que está buscando vender sua participação de 43% no time inglês.
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Durante reunião realizada na terça-feira (03) na sede da entidade europeia, Textor foi direto ao afirmar: “Todo o Reino Unido sabe que eu não tenho influência decisiva sobre o Palace. Eu não estaria tentando vender se tivesse”.
A declaração foi feita ao jornal britânico Daily Mail, em meio a negociações para tentar preservar a presença do clube londrino nas competições continentais da próxima temporada .
Conflito de interesses em múltiplas frentes
O Crystal Palace conquistou vaga na Liga Europa ao vencer o Manchester City na final da FA Cup, mas corre sério risco de ser impedido de disputar o torneio por conta das regras da UEFA sobre multipropriedade. A entidade proíbe que dois clubes com vínculos de controle cruzado participem da mesma competição, a fim de garantir a integridade esportiva.
Além de deter participação expressiva no clube inglês, Textor é proprietário majoritário do Lyon, da França, que também garantiu classificação para a mesma competição continental. Conforme o regulamento vigente, em casos de conflito, o clube com melhor desempenho na respectiva liga nacional tem prioridade.
O Lyon terminou a Ligue 1 em sexto lugar, enquanto o Palace ficou em 12º na Premier League, colocando o time francês em vantagem na disputa por permanência na Liga Europa.
Obstáculos também na Liga Conferência
Ainda que uma eventual realocação para a Liga Conferência tenha sido considerada, esse caminho igualmente enfrenta resistência. David Blitzer, um dos sócios do Palace, também possui o Brondby, clube dinamarquês que já está garantido nos playoffs dessa competição. Assim, qualquer solução de remanejamento esbarra em uma nova situação de conflito de interesse conforme os critérios da UEFA.
O argumento do Crystal Palace para tentar se manter nas competições é o de que Textor, apesar de possuir 43% das ações, tem apenas 25% dos direitos de voto. O mesmo percentual é compartilhado com os coproprietários Steve Parish, Josh Harris e o próprio Blitzer.
Além disso, os representantes do clube alegam que não há estruturas compartilhadas com o Lyon — como instalações, funcionários ou elenco —, o que, segundo eles, reforçaria a independência administrativa entre as instituições.
Textor admite cenário irreversível
A despeito da tentativa de encontrar uma alternativa viável, o próprio empresário deixou claro que a chance de aquisição majoritária se tornou improvável: “Queríamos comprar, mas ficou claro que isso não vai acontecer, então estamos tentando ajudar o Palace e a situação com a UEFA. É tudo o que posso dizer”, afirmou.
Na mesma linha, ele revelou estar colaborando para facilitar a venda de sua parte, admitindo que sua capacidade de intervenção nas decisões do clube é bastante limitada. O hino da Liga Europa chegou a ser tocado em Selhurst Park após a conquista da FA Cup, mas o clima de festa deu lugar à apreensão e incerteza quanto ao futuro do clube nas competições continentais.
Decisão da UEFA será divulgada em breve
A expectativa agora gira em torno do posicionamento oficial da entidade europeia, que deverá anunciar ao longo do mês de junho as deliberações sobre casos de propriedade múltipla válidas para a temporada 2025/26. Se mantido o veto ao Palace, o Nottingham Forest herdaria sua vaga na Liga Europa, e o Brighton ocuparia o lugar na Liga Conferência.
Assim sendo, a crise provocada pelas conexões empresariais de Textor revela as complexidades de estruturas societárias modernas no futebol europeu, sobretudo em cenários nos quais a performance esportiva esbarra em regulamentos de governança corporativa.
A postura do investidor, ao admitir o recuo e buscar alternativas, é uma tentativa de mitigar impactos diretos nos clubes envolvidos sob sua gestão.