A elite do futebol brasileiro registrou arrecadação recorde em 2024, atingindo R$ 10,2 bilhões. Contudo, a alta nos ganhos não representou melhora no quadro financeiro. Segundo o relatório Convocados 2025, produzido pela consultoria Convocados em parceria com a OutField, as dívidas totais dos clubes da Série A saltaram para R$ 14,6 bilhões no último ano.
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O crescimento de R$ 2,7 bilhões corresponde a uma elevação de 22% no passivo consolidado.
A maior parte desse aumento está relacionada às chamadas dívidas operacionais — sobretudo gastos com contratações, salários e encargos de atletas. Esse segmento específico cresceu 37% em relação ao ano anterior, alcançando R$ 6,3 bilhões.
Gasto elevado em elencos e dependência da venda de jogadores
Embora os contratos com casas de apostas e outras receitas comerciais tenham elevado os ganhos a patamares históricos — com R$ 7,88 bilhões em receitas recorrentes —, o crescimento nesse setor foi de apenas 4%, bem inferior aos 16,4% registrados em 2023.
A diferença reforça a dependência que muitos clubes ainda têm da negociação de atletas como forma de fechar as contas.
Essa dependência, aliás, revela um desequilíbrio estrutural, como pontuou o economista Cesar Grafietti: “Seguimos operando com risco elevado. A operação recorrente dos clubes não se sustenta; é um modelo que cresce no limite”.
Segundo ele, o cenário atual remete ao de 2014, quando o aumento da arrecadação não impediu o avanço das dívidas.
Ebitda negativo e clubes em alerta
O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) total dos clubes da Série A chegou a R$ 2,06 bilhões em 2024. No entanto, ao considerar apenas as receitas recorrentes, o indicador foi negativo em R$ 261 milhões.
Isso significa que, sem a venda de atletas, os clubes não teriam capacidade de gerar caixa para cobrir suas despesas e investir em novas frentes.
O caso do Palmeiras ilustra esse cenário: embora o clube tenha obtido um Ebitda total positivo de R$ 475 milhões, o Ebitda recorrente ficou negativo em R$ 29 milhões. Já o Flamengo conseguiu manter equilíbrio, com R$ 308 milhões no total e R$ 232 milhões recorrentes.
Principais devedores e impacto das apostas
No ranking dos maiores endividados, o Corinthians lidera com R$ 2,343 bilhões, seguido de perto pelo Atlético-MG, com R$ 2,304 bilhões. Ambos tiveram crescimento relevante nos passivos, com 24% e 17%, respectivamente.
Cruzeiro, São Paulo, Internacional e Vasco também figuram entre os mais endividados. Palmeiras e Flamengo, mesmo com finanças mais estruturadas, viram suas dívidas crescerem 77% e 70%, respectivamente, por conta dos investimentos elevados.
Boa parte da alta nas receitas veio da entrada agressiva das casas de apostas. Somente em 2024, os patrocínios master ligados a esse setor somaram R$ 579 milhões, o equivalente a 28% das receitas comerciais da Série A.
A previsão é de que esse valor chegue a R$ 988 milhões em 2025. Embora esse movimento tenha impulsionado o faturamento, especialistas alertam para uma possível dependência excessiva de um mercado ainda em processo de regulamentação no país.
Conclusão
Em síntese, o futebol brasileiro vive um paradoxo: arrecada mais do que nunca, mas também gasta em ritmo alarmante. O crescimento das dívidas, motivado principalmente por investimentos desmedidos em elencos, expõe um modelo financeiro frágil. Sem ajuste de rota, a sustentabilidade econômica dos clubes segue em xeque.