Na tarde de terça-feira (03), torcedores organizados do Corinthians protagonizaram uma manifestação de grandes proporções no Parque São Jorge, sede administrativa do clube. Integrantes de seis das principais uniformizadas — Gaviões da Fiel, Camisa 12, Pavilhão Nove, Estopim da Fiel, Coringão Chopp e Fiel Macabra — invadiram o local e trancaram os portões com correntes.
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Uma faixa foi estendida com a mensagem “Fechado por má administração”.
Segundo os organizadores do ato, a mobilização teve como objetivo denunciar o que chamaram de “sistema político corrupto e elitista” que, conforme eles alegam, prejudica o clube há décadas. As exigências são diretas e consideradas “inegociáveis”: direito a voto ao programa Fiel Torcedor, imediata reforma do estatuto e responsabilização por dívidas contraídas em gestões anteriores.
Reações e clima de tensão entre os funcionários
Embora não tenha havido registro de violência física, o ambiente na sede do clube foi descrito como hostil. Relatos indicam que funcionárias da área administrativa se trancaram em um dos andares do prédio social por medo dos manifestantes.
“Foi um momento bastante complicado que só acabou porque as forças policiais chegaram”, afirmou a jornalista Livia Camillo, durante o UOL News.
A polícia chegou poucos minutos após o início da ocupação e permaneceu no local até a dispersão completa, que ocorreu pouco mais de uma hora depois. A entrada de pedestres não foi bloqueada, e os portões do estacionamento foram liberados no início da noite.
Contexto político e disputa interna
A mobilização ocorreu em meio a um período de instabilidade nos bastidores do Corinthians. A tentativa recente de retorno ao poder por parte de Augusto Melo, presidente afastado pelo Conselho Deliberativo, acirrou ainda mais os ânimos.
Melo havia se apoiado em um comunicado assinado por Maria Angela de Sousa Ocampos, que se autodeclarou presidente do conselho, para justificar seu retorno à presidência, movimento contestado internamente.
Enquanto isso, Osmar Stabile atua de forma interina no cargo e chegou a receber membros das torcidas. Segundo os relatos, o dirigente se comprometeu a fiscalizar com mais rigor as categorias de base, mas ponderou que mudanças estatutárias são mais complexas e demandam trâmites formais no Conselho e em Assembleia Geral.
Declarações contundentes e defesa institucional
Alexandre Domênico Pereira, presidente da Gaviões da Fiel, afirmou: “Não somos ninguém, nem Augusto Melo, nem Osmar Stabile. A ideia agora é a reforma do estatuto. A revolução começou hoje”.
Em seguida, reforçou que a luta é pelo resgate da essência popular do clube: “O Corinthians não tem dono. Vamos fazer valer a sua essência do povo e para o povo”.
Em contrapartida, Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo, criticou a ação das organizadas. Em nota, reconheceu a importância das demandas, mas afirmou que “as reivindicações, por mais justas que possam ser, jamais justificam atos que coloquem em risco a integridade física e psicológica de nossos associados”.
Ele reforçou que já havia nomeado uma comissão para tratar da reforma do estatuto e declarou-se aberto ao diálogo, “desde que praticado com a palavra, não com porretes e correntes”.
Desdobramentos
A decisão sobre o futuro de Augusto Melo na presidência será tomada em assembleia marcada para o dia 9 de agosto. Até lá, os ânimos seguem acirrados e o cenário institucional permanece em constante tensão.
A crise instalada revela um clube dividido internamente, com torcedores cobrando maior participação nas decisões e dirigentes tentando equilibrar as demandas com a necessidade de preservar a ordem e as normas regimentais. Enquanto isso, o Corinthians segue buscando estabilidade em meio a um turbilhão político-administrativo.