Contratado no fim de 2023 por aproximadamente R$ 102 milhões, De La Cruz estreou pelo Flamengo em 31 de janeiro de 2024, em partida válida pelo Campeonato Carioca. Desde então, o clube disputou 112 partidas, e o uruguaio esteve ausente em 51 delas — ou seja, 46% dos compromissos.
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Dessas ausências, 22 se deram por motivos clínicos, o que representa 20% do total de jogos perdidos exclusivamente por lesão.
Embora outros atletas do elenco tenham perdido mais partidas por problemas médicos — como Viña (58) e Everton Cebolinha (43) —, De La Cruz lidera o ranking de idas ao departamento médico desde 2024, com seis episódios registrados.
O volante, aliás, chegou ao clube com histórico de sinovite crônica no joelho direito, que inclusive já passou por três intervenções cirúrgicas, além de uma no joelho esquerdo. Apesar disso, o clube tem optado por um tratamento conservador e ainda não realizou nenhum procedimento cirúrgico desde a sua chegada.
Panorama atual da crise médica e bastidores da polêmica
A ausência do meio-campista nos jogos contra Fluminense e Red Bull Bragantino acirrou discussões internas e expôs tensões no ambiente do Flamengo.
A situação escalou após o médico José Luiz Runco, então chefe do departamento médico do clube, afirmar em um grupo de WhatsApp com 71 integrantes — entre conselheiros, sócios e dirigentes — que o atleta “apresenta uma lesão crônica e irreparável no joelho direito e uma lesão também no joelho esquerdo”.
Na mesma mensagem, Runco criticou a antiga diretoria, que comandava o clube no momento da contratação, e alegou que De La Cruz não teria condições de atuar em alto nível.
A declaração causou forte reação no elenco e nos bastidores rubro-negros. O meia Arrascaeta publicou uma foto ao lado do companheiro com a legenda “Cuidar dos nossos”, demonstrando apoio público. Em nota, o estafe do jogador também respondeu:
“Fomos pegos de surpresa com esta declaração do Diretor Médico do clube. Primeiramente, não é uma atitude correta, nem ética, de um profissional que já passou pela Seleção. Vamos procurar entender com o clube se esse posicionamento é do médico individualmente ou do clube como instituição e, logo, analisaremos as medidas cabíveis a serem tomadas”.
Reação institucional e demissão de Runco
A repercussão da mensagem provocou uma crise sem precedentes no setor médico do Flamengo. A diretoria optou por demitir Runco um dia após a divulgação pública do conteúdo da mensagem. A saída foi confirmada oficialmente na quarta-feira (23), e o clube destacou que “a mensagem vazada recentemente não foi escrita por nenhum dos cinco médicos que integram o departamento do futebol profissional”.
O comunicado também reafirmou o compromisso da instituição com “a saúde de seus atletas” e com “investimentos em profissionais de alto nível”.
Internamente, a gestão de Runco já vinha sendo questionada. Desde sua nomeação, ele havia demitido quase 40 pessoas, incluindo o antecessor Márcio Tannure, com quem mantinha rivalidade declarada.
Runco tentou implementar mudanças nos bastidores — como a retirada de nutricionistas das viagens e a remoção de itens de lazer como o futmesa do centro de treinamento —, medidas revertidas após resistência do departamento de futebol. Jogadores também passaram a procurar acompanhamento médico fora do clube, o que aumentou ainda mais os atritos.
Pronunciamento de Marcos Braz e silêncio estratégico
O ex-vice de futebol Marcos Braz, responsável pela aprovação da contratação de De La Cruz durante sua gestão, evitou comentar diretamente a situação ao ser questionado em Belém, onde atua como executivo do Remo. Ainda assim, ele demonstrou desconforto e sinalizou que teria muito a dizer.
“Eu queria muito responder essa pergunta, mas em respeito ao Remo e à torcida do Remo, eu não vou me pronunciar. Mas, com certeza, se eu me pronunciasse, nós dois iríamos estar estampados em todos os órgãos de imprensa do país”, declarou, de forma irônica, durante uma coletiva.
Diagnóstico atual e expectativa de tratamento
Atualmente, De La Cruz segue afastado para realizar um programa de reequilíbrio físico individualizado. O médico Luiz Macedo, que integra o departamento atual, explicou o plano de recuperação:
“Com relação ao Nico, a gente entende que ele teve um primeiro semestre muito bom, talvez a melhor sequência no Flamengo. Só que depois de uma lesão traumática no mês de maio […] optamos por retirá-lo desses próximos jogos para fazer um trabalho especializado com ele, para que consiga, nos próximos desafios, ter um desempenho tão bom quanto ele teve no primeiro semestre”.