Gestão de Bap enfrenta desafio com nova saída do Flamengo

BAP, presidente do Flamengo (Foto: Reprodução)

A direção do Flamengo iniciou um processo emergencial de reparação institucional após a saída do médico José Luiz Runco, demitido na quarta-feira (23) por decisão do presidente Bap. A exoneração ocorreu horas antes da partida contra o Bragantino, motivada por uma mensagem do então chefe do departamento médico em um grupo privado, na qual classificava a situação de De la Cruz como “lesão crônica e irreparável”.

O episódio, além de causar desconforto público, ampliou o abalo interno, sobretudo entre os atletas, que já demonstravam desconfiança em relação à atual condução médica do clube. Desde a ampla reformulação no início do ano, implementada com a volta de Runco ao clube, os procedimentos adotados passaram a ser questionados por jogadores.

Conforme relatos nos bastidores, os métodos aplicados por alguns profissionais indicados pelo médico seriam “distintos” e até considerados “ultrapassados” quando comparados aos utilizados em outras instituições esportivas de ponta.

A crise, que vinha se formando em silêncio, explodiu após a exposição do volante uruguaio, e agora a prioridade da cúpula rubro-negra é reconstruir pontes com o elenco.

Instabilidade e clima de tensão nos bastidores

A reação imediata da diretoria foi centralizar as ações em Bap, que blindou os membros do departamento de futebol e impediu novas manifestações públicas sobre o caso. Embora Runco não atuasse diariamente no Ninho do Urubu, sua influência era notória, com envolvimento em decisões estratégicas e comunicação com seleções.

No entanto, sua presença esporádica no CT contrastava com o controle exercido nos bastidores, o que aumentou o incômodo entre os jogadores, especialmente após as recentes declarações.

Dentro do clube, a movimentação política busca agora dissipar o vínculo entre a imagem do departamento médico e a figura de Runco. A permanência de profissionais indicados por ele — entre fisioterapeutas, fisiologista e nutricionista — segue indefinida.

O clima entre os atletas, por ora, é de receio e expectativa quanto às próximas decisões.

Declarações evidenciam rachadura interna

Ao final da vitória por 2 a 1 sobre o Bragantino, Arrascaeta expressou sua dificuldade de concentração diante da situação envolvendo o companheiro uruguaio:

“É muito difícil estar focado dentro do campo e treinando quando acontecem coisas assim. Temos que continuar focados no campo, tentando fazer o melhor. Extracampo tentamos nos fechar para que isso não interfira, mas têm situações pontuais que são difíceis”.

Posteriormente, o camisa 10 publicou nas redes sociais uma imagem ao lado de De la Cruz com a legenda “Se trata de cuidar dos nossos. Simples assim”, sinalizando apoio direto ao companheiro, que segue fora por conta de um problema no joelho esquerdo.

O volante, contratado ao fim de 2023, custou mais de R$ 102 milhões ao clube e vem sendo gerenciado com um plano de recuperação a longo prazo.

Unidade do elenco contrasta com fragilidade institucional

Além de Arrascaeta, o zagueiro Léo Ortiz reforçou o discurso de união entre os atletas e destacou a tristeza com a exposição do colega:

“Ficamos tristes pelas palavras que foram usadas. Vamos dar muita força para que ele possa voltar e nos ajudar porque sabemos da importância dele”.

Na mesma linha, Filipe Luís procurou valorizar a postura coletiva do grupo, apesar dos ruídos externos:
“Essas coisas externas machucam, mas, no fim das contas, é um grupo fechado, de amigos, irmãos. É blindado a esse tipo de coisa”.

O treinador também elogiou o desempenho diante do Bragantino e classificou a atuação como inédita, destacando a entrega de atletas como Everton Araújo e Viña. A vitória, obtida fora de casa, teve ainda gols de Léo Pereira e Wesley, esse último envolvido em negociação avançada com a Roma.

Mesmo sob pressão, desempenho é mantido

Em meio ao ambiente conturbado, o time de Filipe Luís respondeu com desempenho consistente dentro de campo. Desde a pausa para a Copa do Mundo de Clubes, o Flamengo acumula três vitórias e uma derrota, mantendo-se na parte alta da tabela do Brasileirão.

A equipe venceu o Fluminense no clássico e superou o Bragantino com autoridade, mesmo sob o impacto da demissão do chefe médico poucas horas antes do jogo.

Apesar da tensão que vem dos bastidores, o elenco mostra resistência. O planejamento segue com reforços como Saúl e Emerson Royal, e o clube negocia a contratação de Samuel Lino, do Atlético de Madrid. Embora as instabilidades ainda ecoem, principalmente no setor médico, a resposta do grupo em campo atenua os efeitos da turbulência interna.