O Flamengo foi alvo de uma ação civil pública movida pela Educafro, organização dedicada à defesa da população negra e de baixa renda. O processo foi protocolado na Justiça do Rio de Janeiro em 21 de agosto e pede indenização de R$ 100 milhões. Segundo a entidade, o clube pratica racismo institucional e estrutural em diferentes esferas, desde declarações de dirigentes até políticas de acesso aos estádios.
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A denúncia ganhou força após falas do diretor da base rubro-negra, o português Alfredo Almeida, em julho deste ano. Ele declarou que “a África tem valências físicas” enquanto “a parte mental está em outras zonas da Europa”, expressão classificada como de cunho racista e eugenista. O caso se soma à polêmica de março, quando o presidente do clube, Luiz Eduardo Baptista, considerou “adequado” um discurso do mandatário da Conmebol que minimizava o racismo nos estádios.
A Educafro também apontou omissões históricas do Flamengo. O texto do processo cita a recusa em assinar manifesto antirracismo da Libra e a invisibilidade de ídolos negros, como Adílio e Andrade, em celebrações oficiais. Além disso, a ONG destacou a elitização dos ingressos, que limitaria o acesso da população negra às arquibancadas.
O fundador da Educafro, Frei David, explicou o objetivo pedagógico da ação, afirmando que busca dar voz à comunidade afro-brasileira.
“Acompanhamos a questão do racismo no futebol brasileiro e internacional há 11 anos, desde 2014, e percebemos que quase nada está mudando. As ações atuais, como faixas e frases em camisetas, são consideradas insuficientes e não dá mais para brincar com a luta contra o racismo”.
Ele ainda destacou a importância de enfrentar o problema de forma ampla.
“O Flamengo tem a maior torcida com pessoas negras em sua composição no Brasil. A ação é uma defesa dessa comunidade, que muitas vezes é tímida para falar a sua dor. É um processo profundamente pedagógico para levar a comunidade afro-brasileira a discutir e enfrentar o problema do racismo com profundidade”.
A Educafro sugeriu que, caso a Justiça aceite o pedido, o valor seja aplicado em projetos de inclusão. Estão previstos programas como bolsas de estudo em escolinhas de futebol do Flamengo, auxílios para estudantes do Prouni e democratização do acesso aos jogos, com ingressos sociais a R$ 10 e gratuidades para alunos de escolas públicas.
O Flamengo, por meio de sua assessoria, afirmou que ainda não foi citado judicialmente. O clube classificou a ação como “lamentável e oportunista”, ressaltando que seu estatuto foi atualizado recentemente para incluir normas de combate ao racismo estrutural.