Padre que abençoou CT vira ‘herói’ e se diverte com a torcida do Flamengo

Escudo do Flamengo é exposto próximo a um dos gols, no gramado do Maracanã (Foto: Daniel Castelo Branco)

Nas redes sociais, a torcida do Flamengo escolheu o craque da vitória sobre o Coritiba neste sábado no Maracanã. Não, não foi Arrascaeta. O eleito foi o Padre Omar, da Paróquia São José, na Lagoa, que benzeu o CT do Ninho do Urubu e abençoou parte do elenco na sexta-feira. Já há torcedor pedindo o contato do pároco para resolver seus problemas pessoais ou enchendo a caixa de mensagens das suas páginas oficiais. Numa delas, o torcedor disse que o “Milagre foi tão grande que até o Renê fez gol”.

Fato curioso, porém, é que o padre a quem é dado o crédito de ter tirado a zica do Flamengo não torce pelo Rubro-Negro. Pelo contrário, Padre Omar, também reitor do Cristo Redentor, é tricolor de coração. Foi levado até o Ninho do Urubru, inclusive, por outro conhecido torcedor do Fluminense, o advogado Pedro Trengrouse, que já concorreu à presidência do clube.
Trengrouse atendeu a um pedido do vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, feito na quinta-feira. O dirigente rubro-negro queria que o padre fizesse uma oração no CT.

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— Ele benzeu o CT inteiro, andou por tudo, fez oração no campo de treinamento. Fez uma oração no local onde vai ser construída uma capela consagrada a São Judas Tadeu, que deve ser inaugurada em fevereiro de 2021, no CT – conta Trengrouse, que também é membro do Conselho da Associação Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

O encontro com os jogadores não estava programado. Mas Padre Omar pediu para falar com o capitão Everton Ribeiro. O pároco vai batizar o filho mais novo do jogador, Antonio, em dezembro. Em seguida, os outros jogadores apareceram, além do técnico Rogerio Ceni, e uma oração foi feita na presença deles.

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— Já abençoei o pessoal do Vasco. É algo que faz parte da nossa atividade religiosa. O futebol, o esporte, faz parte do afeto brasileiro. Assim como o Cristo Redentor. Lá, a gente tem um comitê que cria uma articulação junto ao esporte. Eu tenho visitado entidades esportivas da cidade. Chegou a vez do Flamengo – diz o padre, que se diverte com o momento.

— A gente está vivendo dias de tanta intolerância no país, momento de grande angústia. Criar alegria, rezar, é um testemunho que a gente quer paz. A grande mensagem que fica.

Padre Omar durante sua visita no Ninho do Urubu

O momento surgiu agora, mas Padre Omar afirma que já pensava em fazer uma visita ao CT do Ninho do Urubu desde a morte dos 10 garotos no incêndio do alojamento em fevereiro do ano passado.

— Eu estava com vontade de ir ao CT, foi um lugar marcado pela tragédia. Tinha vontade de fazer uma oração. Foi um encontro muito bacana – diz o padre, que já tinha relação com o clube por meio do ex-zagueiro Juan. – A esposa dela é amiga de infância.

Trengrouse não vê como conflito de interesse futebolístico um padre tricolor benzer o rival Rubro-negro. O próprio advogado levou o pároco até o Ninho do Urubu.

— Viva com fair play. Eu mesmo fui lá, sou tricolor. Viva com Fair Play. Se o Mário Bittencourt convidar, nós vamos. Como já fomos. O Padre Omar, quando o Fluminense estava para ser rebaixado, em 2009, ele foi lá e fez a oração. É um gesto religioso. Ele é o padre que mais tem diálogo interreligioso do Rio. É um ícone da sociedade carioca. A bênção tem um simbolismo muito grande’ – afirma.

Do futebol e do samba

Além de ser uma figura notória da sociedade carioca, Padre Omar é pop. Ele tem mais de 34 mil seguidores no Instagram, coluna em jornal e há mais de uma década dá orientações a atores da Globo que interpretam religiosos na ficção.

Ele também é do samba. Frequentador das rodas do Cacique de Ramos, Padre Omar gravou o DVD “Samba de fé”, com a participação de Jorge Aragão e Xandy de Pilares, por exemplo. A renda da turnê foi revertida para projetos sociais com refugiados:

— Não podemos perder a relação do lúdico, do entretenimento, com nossa alegria de viver. O padre quer se fazer presente junto às instituições. Quando um time do Rio vence, todos vencem. É uma cultura que precisa ser implementada no Rio. A rivalidade não pode desconstruir aquilo que é mais importante: a cultura de paz,. Em nome disso, a gente se aproxima, cria relações. É a benção direcionada ao atleta. Não é uma benção dedicada a conquista ou não conquista. O que fica é o amor pela profissão.

Retirado de: Extra