Vítor Pereira pretende se impor mais no Flamengo

Vítor Pereira chega com o Flamengo para o Mundial de Clubes (Foto: Marcelo Cortes/Flamengo)

O planejamento para 2023 foi atropelado, a preparação física está aquém do ideal, mas o ambiente desgastado do vestiário do Flamengo também explica um pouco as dificuldades de Vítor Pereira em engrenar na busca por melhores resultados e desempenho em 2023.

Contratado para o lugar de Dorival Júnior, muito querido pelos jogadores, o treinador português ainda não conseguiu mobilizar o grupo em prol de suas ideias, apesar dos conceitos técnico e táticos de alto nível apresentados, e das fortes cobranças que faz ao grupo no dia a dia.

A ideia é que depois das decisões no começo de temporada, que se encerram com a Recopa na terça-feira, Vítor Pereira passe a fazer mudanças mais drásticas. Em meio à pressão, mantém boa relação com os jogadores, evita contrariar os medalhões, para após avaliação inicial fazer os ajustes.

Até porque hoje a estrutura do departamento de futebol não lhe dá o respaldo que ensaia no discurso. Há desgaste tanto nas instâncias superiores como entre os atletas e a diretoria. Por trás da sensação de um trabalho novo, de menos de dois meses, estão anos sem mudanças na estrutura profissional.

A comissão técnica precisa lidar ainda com diversos jogadores que possuem vida longa no clube, têm salários elevadíssimos, alguns em fase de declínio da carreira e idade avançada. Hoje, não há peças de reposição para o técnico trabalhar alternativas, nem capacidade da diretoria de cobrar do grupo.

Um dos exemplos foi ter cedido aos apelos dos jogadores por férias mais longas, que agora gera consequência na preparação, sobretudo na parte física. Do gerente de futebol Fabinho Soldado, passando pelo ex-jogador Juan, até o vice de futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel, a relação com o elenco é de respeito e profissional, mas a falta de comando é percebida por várias pessoas que circulam no vestiário não é de hoje.

Chance de intervenção

Mais recentemente, o espaço tem sido frequentado de perto pelo presidente Rodolfo Landim e o CEO Reinaldo Belotti, colocado no circuito diante da necessidade e da demanda interna e externa por uma reciclagem neste comando.

Belotti viajou ao Marrocos e ao Equador como homem de confiança do presidente e membro do Conselhinho do Futebol. O executivo começa a tomar pé da situação para uma avaliação do trabalho de todo o departamento, não apenas do treinador.

O Conselhinho foi recentemente reconfigurado e promete ganhar força outra vez, com nomes alinhados a Landim, ao ex-vice-presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap, e alguns ainda ao próprio Marcos Braz, este bastante desgastado.

Há quatro anos no cargo, o vice de futebol mantém-se fiel ao presidente Landim, dá entrevistas, mas não demonstra a mesma capacidade de mobilizar os atletas de outros tempos. Ficou de fora da viagem ao Equador alegando questões de saúde. O mesmo vale para Bruno Spindel, competente nas negociações, mas sem perfil de liderar os jogadores nos momentos conturbados.

A dupla, entretanto, tem crédito pelos títulos dos últimos anos e excelentes acordos para chegada e saída de atletas. Pesam contra justamente as escolhas de treinadores e o descompasso entre essa escolha e a formação do elenco, que apesar de forte segue carente em algumas posições.

O gerente de futebol Fabinho Soldado, ex-jogador, também não segura o vestiário sozinho. O mesmo vale para Juan, gerente de transição. Dois ex-jogadores com pouca voz e poder de decisão em suas funções.

O funcionário com mais abertura entre os jogadores é Gabriel Skinner, supervisor de futebol e com boa relação com a cúpula do clube. Ainda assim, sem cargo para qualquer tipo de cobrança. Hoje, Skinner e Spindel estão alinhados a Bap. Fabinho e Juan, a Braz.

Pano de fundo político

Os dois caciques da política rubro-negra mantém guerra fria conhecida há anos. Hoje presidente do Conselho de Administração, Bap tem pretensões eleitorais no ano que vem. Braz mantém-se como escudo de Landim nas duas gestões, balança em momentos de crise, mas não é trocado, pois tem boa relação com o mercado.

No meio do fogo cruzado entre Gávea e Ninho do Urubu, Vítor Pereira chegou com a consciência de que precisará implementar o trabalho por conta própria, tem respaldo de Landim para isso, mas certa dificuldade no trato pessoal e humano com seus comandados.

No Corinthians, esse traço logo apareceu. Mesmo assim, o treinador tem atuado de forma cautelosa para não promove mudanças drásticas, evitando qualquer tipo de boicote de um grupo em transformação constante.

Entre chegadas e partidas do ano passado para cá, há relatos de jogadores mais calados, apenas cumpridores das obrigações, mas sem o mesmo entusiasmo. Desde a saída de Rodinei, David Luiz não exibe a mesma liderança e entusiasmo. O lateral era grande amigo do zagueiro. Outro jogador que faz muita falta no grupo é João Gomes.

Gabigol assumiu a camisa 10 e o papel de capitão nos microfones, enquanto o capitão de fato, Éverton Ribeiro, perdeu espaço e é um dos que apresenta declínio físico, prestes a completar 34 anos. A renovação acontece dentro e fora do campo.

Outro jogador experiente, Filipe Luís, 37, está um pouco mais afastado, pois se recupera de lesão, dando lugar a Ayrton Lucas. No ano passado, o lateral admitiu falta de química no começo do trabalho de Paulo Sousa, sintoma que nesse momento ainda não foi detectado

Retirado de: Extra