Empresário admitiu operar manipulações
Acusado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) de ser o principal responsável por um esquema de manipulação de jogos na região, o empresário William Rogatto fez um depoimento revelador à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado Federal na última terça-feira (8). Ele admitiu ter participado da adulteração de jogos em todo o Brasil, afirmou ter lucrado R$ 300 milhões com o esquema e mencionou John Textor, proprietário da SAF do Botafogo, em meio a indícios de manipulação em partidas do Campeonato Brasileiro.
- Botafogo aceita exigência da diretoria do Flamengo
- Botafogo poderá afetar jogo do Palmeiras no Brasileirão
“Vocês falaram do John Textor, não é? Não sei as provas que John Textor tem, tá? Mas uma coisa eu posso falar: as pessoas que trabalharam para mim também trabalharam contra ele nesse campeonato, e as pessoas falam que não. Não estou aqui para enfrentar… Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], não quero te enfrentar jamais, não estou falando que você fez ou não, está bom? Mas eu te garanto que o John Textor não está totalmente errado. Mas, enfim, é só pra você entender a dimensão em que está o futebol, cara. Entende? O que o chamam de louco, ele não é tão louco assim”, disse William Rogatto, que continuou:
“O modus operandi é bem complexo. Por isso que eu falo para você hoje que, se tem pessoas ganhando dinheiro nas casas, hoje é mais difícil saber. Por quê? Porque ele pode simplesmente ali tomar um cartão, você não vai condenar um atleta seu porque tomou um cartão; ele pode soltar um gol ali, ele pode fazer um pênalti, você não vai condenar, porque isso é circunstâncias dos jogos. Só que é o seguinte: um gol altera muito, muito um resultado”, falou o empresário.
O senador Carlos Portinho (PL-RJ) perguntou para Rogatto se havia participado de jogos mencionados por Textor, como São Paulo x Palmeiras e Palmeiras x Vasco de 2023. A resposta do empresário foi de forma breve:
William Rogatto disse que acredita que teve manipulação no Choque Rei de 2023 e confessou que lucrou muito dinheiro apostando no Palmeiras na reta final do Brasileirão, onde o Botafogo foi despencando e o Verdão apenas subindo.
“Vou falar mais uma vez, vou deixar entre linhas… Esses são grandes, literalmente. Não posso vir aqui e enfrentar a Leila, não vou, isso é loucura da minha cabeça. Não vou enfrentar o presidente do São Paulo, não tem lógica. [Denúncias levantadas por Textor] Tem fundamento, total…”, falou o empresário, que continuou:
“É só opinião minha, tá? Está nitidamente, é só você olhar os gols. Pode não ter acontecido nada, mas é minha opinião. Eu confesso, apostei, de repente ainda tenho alguns bilhetes que posso te mandar, e eu ganhei. Muitas das vezes, os presidentes podem ser vítimas desinteressadas. Às vezes, dois jogadores desestruturam totalmente um jogo. Com um pênalti… Tem presidente que sabe, tem presidente que eu engano”.
“Todos os jogos que eu vi que estavam acontecendo, que o Botafogo vinha desestruturado, e o Palmeiras, todos os jogos que eu fiz no Palmeiras eu ganhei. Resultados. Informação corre. Informações chegam, muitas das vezes porque jogador não consegue segurar a boca: “Hoje vai ter um resultado ali, tal time vai ganhar e vai tomar uns gols aí”. Eu sou supostamente um apostador, não só de esquema de manipulação. Eu amo apostar. Alguns jogos que eu fiz ganhei, porque tinha a informação. Eu colocava e dava bom. De onde vinha a informação? Não sei. Eu só sei que eu ganhava”, completou.
Rogatto ainda disse que o futebol brasileiro está corrompido e que virou uma máfia por conta dos envolvimentos de jogadores e também de árbitros, inclusive, de árbitros do quadro da Fifa.
“Eu sou a máquina que está oferecendo dinheiro mais fácil para o atleta e dando dignidade para o cara dar de comer à família dele. Será que eu sou tão errado assim? Fui um dos maiores. Se não o maior, um dos mais organizados. Eu já trabalhei e operei nas 26 unidades da federação e no Distrito Federal. Inclusive, no Distrito, foi onde eu bati de frente com um cara muito forte. Aí, a gente vai naquela luta de poder. Eu perdi e fiquei exposto. O presidente da federação [de Futebol do DF] foi o cara que mais me apoiou em tudo o que eu fiz”, contou.
“Um árbitro hoje ganha em torno de R$ 7 mil por jogo. Eu pagava R$ 50 mil para ele. Você não acha estranho um árbitro que vai para o VAR e ele dá um pênalti, mesmo com o VAR falando? Eu acabei de fazer um jogo na Colômbia, na primeira divisão, eu tenho aqui os vídeos dos dois árbitros que trabalharam para mim na Colômbia. O árbitro ganha pouco. O gatilho do futebol está na máfia, da federação e da CBF. Você acha que um árbitro, com a responsabilidade que tem, ganhar R$ 6 mil… É claro que eu vou chegar nele: “Marca um pênalti, dá cartão para fulano de tal e te dou R$ 50 mil”. Desculpa, mano! É tão simples. Não vê quem não quer. Eu não precisava estar falando aqui, é tão escancarado! Está tão feio, que como não acontece nada e o sistema não faz nada, deixa rolar… Se o árbitro com R$ 6 mil pega R$ 50, imagina o VAR que ganha R$ 1,5 mil…” finalizou.
Os senadores da CPI se comprometeram a viajar para Portugal para se reunir em particular com William Rogatto, que prometeu apresentar provas e indicar mais pessoas ligadas ao esquema.